De martelo do Thor a memes: Tarcísio de Freitas faz aposta 'pop' nas redes

Tarcísio faz meme nas redes — Foto: Reprodução

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GERADO EM: 26/04/2025 - 17:39

Tarcísio de Freitas aposta em comunicação "pop" para conquistar jovens eleitores em SP

O governador de São Paulo,Tarcísio de Freitas,adota uma comunicação "pop" para atrair jovens,utilizando memes e referências culturais nas redes sociais. Ele busca reverter a rejeição entre eleitores mais novos e se aproximar da população. Tarcísio usa o martelo da bolsa de valores como símbolo,comparando-se ao super-herói Thor,e enfrenta desafios de imagem e comunicação diante de críticas e polêmicas políticas.

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O governador de São Paulo,Tarcísio de Freitas (Republicanos),passou a adotar um estilo mais “pop” em eventos com a participação de prefeitos cada vez mais turbinados no Palácio dos Bandeirantes. Além da rotina de megasolenidades,embaladas pelo hit “I gotta feeling”,do Black Eyed Peas,e da maratona de selfies que se espalham pela internet,o político adotou uma linguagem mais descontraída em suas redes sociais. A mudança faz parte de uma revisão da estratégia de comunicação em curso no governo paulista. A ambição é estabelecer um diálogo direto com o eleitor,de olho em 2026.

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Em mais de um conteúdo,Tarcísio tenta emplacar como marca registrada o martelo da bolsa de valores,que ele costuma bater com entusiasmo durante os leilões organizados pela B3. Um dos vídeos o compara ao Thor,o super-herói da Marvel baseado no deus nórdico do trovão,que também usa a ferramenta.

“Hoje o martelo está diferente,porque é dia de cravar a primeira estaca do hospital das clínicas de Ribeirão Preto”,afirmou o governador,sorridente,antes de usar o objeto para enterrar o pedaço de madeira no solo. A gravação foi feita entre compromissos públicos na cidade,em fevereiro.

Outro meme mostra o governador repetindo a frase “olha que legal,olha que bacana”,inspirado num viral do TikTok que surgiu com um professor de física tentando chamar a atenção dos seus alunos de cursinho pré-vestibular. A releitura mostra ações do governo no fundo,uma delas a construção de túneis do metrô. Neste caso,contudo,houve contra-ataque: a oposição trocou as imagens originais por cenas das enchentes que recentemente atingiram o estado e castigaram severamente algumas regiões,como o Jardim Pantanal,na capital paulista. A frase seguiu a mesma.

A Secretaria de Comunicação do Estado (Secom) não explicou como é feita a produção e quem seria o responsável diretamente pelo que é divulgado nas contas pessoais do governador nas redes sociais. Os conteúdos sugerem existir um método de produção,inclusive em agendas externas,e ferramentas específicas para “recortar” o político e inseri-lo nas mais diversas situações e cenários,algo que lembra a técnica de chroma key,com fundo verde para edição de vídeo.

— Ele consulta a si próprio para as estratégias — diz o secretário da Casa Civil,Arthur Lima,um dos auxiliares mais próximos de Tarcísio,que faz mistério sobre a origem dos memes.

Busca pelo eleitor jovem

Especialista em marketing político digital e professora da ESPM,Natália Mendonça avalia que existe um movimento geral na classe política para transmitir a ideia de que eles são “pessoas comuns”,“gente como a gente”,próximos da população. Aliviariam assim o peso do posto e transmitiriam mais empatia:

— No caso do Tarcísio,é um movimento que acompanha as pesquisas,que busca reduzir a rejeição maior no público mais jovem,essa percepção de que ele seria um cara muito duro,até pela forma como ele se manifesta. Isso cria um distanciamento,e ele está tentando reverter isso na comunicação.

Pesquisa Datafolha divulgada no dia 10 de abril mostra que o percentual da população que considera a gestão de Tarcísio ótima ou boa é mais baixo entre os entrevistados de até 34 anos em relação aos mais velhos. Por consequência,o índice de avaliação regular ou ruim e péssima sobe no mesmo estrato.

As simulações de eleição ao governo do estado mostram ainda que parte relevante dessa camada se sente atraída,por exemplo,mais por Pablo Marçal (PRTB),empresário e influenciador que construiu sua reputação no meio digital,do que pelo governador de São Paulo. Nesta semana,dois conteúdos publicados por Tarcísio falavam em “garantir a prosperidade” dos cidadãos a partir de uma palestra dada a empresários,tema caro ao eleitor de Marçal e ao segmento evangélico.

Malabarismo político

A mudança na comunicação do governador também leva em conta seu malabarismo político. Além da proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro,da participação em manifestações favoráveis ao PL da Anistia e das críticas pontuais ao Supremo Tribunal Federal (STF),Tarcísio entrou em uma polêmica na área de segurança pública. Em março do ano passado,quando o alto número de mortes em operações da Polícia Militar de São Paulo na Baixada Santista provocou queixas de grupos de direitos humanos à Organização das Nações Unidas (ONU),Tarcísio afirmou que não estava “nem aí”.

— Temos muita tranquilidade sobre o que está sendo feito. Então,o pessoal pode ir na ONU,na Liga da Justiça,no raio que o parta — afirmou,na ocasião.

O próprio martelo,que passou a ser usado como uma brincadeira nas redes do governador paulista,não deixa de ser um símbolo de agressividade,pontua Natália Mendonça,o que agrada uma parcela do bolsonarismo familiarizada com a “arminha” feita pelos dedos das mãos. Era uma referência à política pró-armas que,em grupos radicais de diretas,chega a ser traduzida como defesa contra a “implantação do comunismo no país”. Outro fator é o martelo representar,no caso do governo estadual,a privatização de estatais.

Se Tarcísio aumentou o acesso a prefeitos e aliados,o mesmo movimento não ocorreu com a imprensa. Desde o segundo turno das eleições municipais,quando afirmou,sem provas,que representantes do crime organizado haviam emitido um “salve” para indicar o voto no candidato de esquerda,Guilherme Boulos (PSOL),contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB),seu aliado,as entrevistas e conversas com jornalistas ao fim das agendas passaram a ser raras.