Andrei Rodrigues - Diretor Geral da Polícia Federal — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 26/04/2025 - 17:31
Influência de Andrei Rodrigues na PF gera desconforto em Brasília
Andrei Rodrigues,diretor-geral da Polícia Federal,fortalece sua influência em Brasília,causando desconforto no governo. Com apoio de Lula e ministros do STF,Andrei expande o poder da PF e tenta emplacar aliados em cargos estratégicos. Sua atuação,incluindo negociações com o STF e articulações para o Coaf,levanta suspeitas de ambições políticas,apesar de ele negar intenção de assumir cargos ministeriais.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Andrei Rodrigues tem apenas dois anos à frente da Polícia Federal,mas já acumula um feito: é o diretor-geral da corporação mais longevo desde 2017. Após o governo de Jair Bolsonaro,quando cinco nomes ocuparam o cargo,o delegado gaúcho se mantém estável no posto,graças à confiança conquistada junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Essa condição tem feito Andrei se sentir à vontade para tentar alargar o seu raio de influência,o que tem gerado incômodo entre integrantes do governo.
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O chefe da PF vem se valendo do seu prestígio em Brasília para negociar mais poderes à corporação,emplacar aliados em cargos de destaque e participar como palestrante de eventos no exterior. Essa movimentação incomoda integrantes do governo,que veem nos passos dados por Andrei uma tentativa de galgar postos mais altos,como um cargo na Esplanada dos Ministérios. A possibilidade é sempre descartada pelo delegado federal quando alguém o questiona sobre os seus planos. Apesar disso,o diretor-geral não nega que se esmera no jogo político. Pelo contrário: a interlocutores,costuma dizer que o giro pelo poder atende à estratégia de defender os interesses da PF. Procurado,ele não quis comentar.
Essa estratégia lançou Andrei no início deste ano numa intensa negociação de bastidores com o Supremo Tribunal Federal (STF) às vésperas da decisão sobre a ADPF das Favelas,ação que fixou balizas para o combate à letalidade policial nas comunidades do Rio de Janeiro. Avisado de que ganhava força na Corte a ideia de promover uma espécie de intervenção na segurança do Rio por meio da PF,o diretor-geral buscou ministros para dissuadi-los da ideia. Reuniu-se com o relator,Edson Fachin,e procurou ainda individualmente outros integrantes do Supremo,como os ministros Luís Roberto Barroso,Alexandre de Moraes,Flávio Dino e Gilmar Mendes.
Cargo estratégico
A saída negociada permitiu ampliar os poderes da PF para atuar em comunidades mais carentes sem que a instituição tivesse o ônus de responder diretamente pela segurança no Rio,ao mesmo tempo que abriu caminho para aumentar o orçamento à disposição da corporação — que deve ampliar o efetivo de agentes e delegados.
Em outra frente,Andrei foi a campo para tentar emplacar o nome do novo chefe do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf),órgão de combate à lavagem de dinheiro subordinado ao Banco Central (BC). Para a vaga,ele indicou o delegado Ricardo Saadi,hoje diretor de investigação e combate ao crime organizado da PF. O nome ainda não foi oficializado,mas pessoas a par do assunto dizem que o presidente da entidade monetária,Gabriel Galípolo,estava apenas à espera da negociação final com o Senado para anunciá-lo.
Segundo pessoas próximas ao diretor-geral,o diagnóstico de que o Coaf é um órgão estratégico para investigações,mas que estava “disfuncional”,acabou levando Andrei a se movimentar para emplacar um aliado. O fato é que,se a nomeação for confirmada,o chefe da PF terá um homem de confiança dentro de uma das autarquias mais poderosas da administração federal — que tem acesso a movimentações financeiras consideradas atípicas,inclusive transações feitas pela classe política.
Rota de colisão
A movimentação do chefe da PF,porém,não o blinda de atritos. Recentemente,o próprio presidente o convocou para uma tensa reunião no Planalto com diretor-geral Agência Brasileira de Inteligência (Abin),Luiz Fernando Corrêa. No encontro,classificado por auxiliares palacianos como uma espécie de “acareação”,o presidente queria entender a investigação sobre a “Abin paralela” e por que a atual cúpula da agência estava na mira da PF. As apurações geraram um constrangimento diplomático ao governo brasileiro após revelar que autoridades paraguaias foram espionadas nos governos Bolsonaro e Lula.
Andrei entrou em rota de colisão com Corrêa quando investigadores levantaram indícios de que a atual cúpula da Abin atuara para dificultar uma apuração. O chefe da agência,que comandou a PF no segundo mandato de Lula e é subordinado ao ministro-chefe da Casa Civil,Rui Costa,nega ter praticado qualquer irregularidade. Para aliados de Corrêa,Andrei age de forma deliberada para “derrubá-lo”. Pessoas próximas ao diretor-geral da corporação policial argumentam que o mais confortável para Andrei seria não mexer com o chefe do órgão de inteligência,que é amigo de longa data de Lula e conta com apoio de integrantes do PT,mas as evidências levantadas pelo inquérito da Abin paralela justificam o avanço das apurações.
Ao mesmo tempo em que compra batalhas em Brasília,Andrei circula também pelo exterior. Foi assim no ano passado,quando esteve como palestrante em eventos promovidos por empresas brasileiras em Lisboa,Londres e Roma.
As movimentações levantam olhares desconfiados em Brasília. Para um ministro de Lula ouvido sob reserva,Andrei deve acalentar o desejo de alçar outros voos,como ocupar um ministério. Quem trabalha com ele diz que essa possibilidade nunca é citada.
O diretor-geral gosta de lembrar que já poderia,inclusive,ter se aposentado e pretende fazê-lo após sua passagem pelo comando da corporação.