Crise de alimentos vai além do preço

Supermercado no Rio — Foto: Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 14/03/2025 - 19:22

Crise alimentar no Brasil: Preços altos e desafios climáticos agravam cenário

A crise alimentar global transcende o aumento dos preços e envolve complexas cadeias de suprimento. No Brasil,a alta no custo de alimentos como a manga reflete essa realidade. O sistema alimentar é impactado por variáveis como energia,clima e água. Com a transição energética lenta e mudanças climáticas intensas,alimentos baratos e abundantes são inviáveis. É crucial debater temas como segurança sanitária e a desigualdade no acesso à comida.

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Graças à divisão de trabalho doméstica,há muitos anos vou à feira uma vez por semana. Às vezes,comparo com as compras no exílio europeu. A manga era cara,era preciso ter um pequeno excedente para comprá-la. Agora,ao comprar manga no Brasil,constato que custa R$ 10 a unidade,percebo que os preços se aproximam.

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Muita coisa mudou ao longo destas décadas no país,e,sinceramente,não acho correto culpar o governo. O sistema mundial de alimentação,com suas complexas cadeias de suprimento,não é fácil de domar,ainda mais por um só país,ainda que seja uma superpotência alimentar como o Brasil.

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Lembro-me do nome de um restaurante onde comi algumas vezes no início do século: Food for Thought. Isso me estimula nos próximos meses a escrever alguns artigos e esquentar o tema nas eleições de 2026.

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Na campanha de 2022,o tema esteve presente de alguma forma no discurso de Lula,que encaminhou uma aliança contra a fome,defendeu financiar a agricultura familiar e apresentou uma proposta popular de picanha para todos. Lula enfocou o consumo da carne pelo ângulo do prazer,associando-o a uma cervejinha. A verdade é que também é um tipo de proteína importante para a saúde.

Para produzir um quilo de carne,porém,é preciso também produzir dois quilos de grãos. O consumo universal da carne traria imenso problema de mais áreas aráveis,inclusive as hoje disputadas para a produção de biocombustível.

No momento,discutimos principalmente preços. Mas eles podem ser a face visível do problema. Antes de chegar a eles,é preciso também considerar três variáveis que impactam a produção: energia,clima e água.

Estamos ainda no início da transição energética. O petróleo tem ainda grande importância no transporte dos alimentos,na impulsão de máquinas e até mesmo nos fertilizantes. Seria importante discutir isso de uma perspectiva nacional,cobrar a rapidez da transição e buscar a autossuficiência em fertilizantes. A guerra na Ucrânia mostrou nossas lacunas. Temos potássio,e há uma produção interessante de fertilizantes naturais no sul de Minas.

As mudanças climáticas precisam ser abordadas com urgência. A safra do ano passado sofreu um baque por causa disso. É necessário preservar os rios voadores da Amazônia,combatendo queimadas e desmatamentos e,ao mesmo tempo,investir em pesquisas sobre a resistência das plantas ao calor.

A água é um elemento superdelicado. Alguns países deixam de produzir alimentos para não gastar seus recursos hídricos. A agricultura usa muita água. Mas não só ela. Quem visitar — como fiz algumas vezes — criações industriais de frango e carne de porco verá como consomem grandes quantidades de água. Na verdade,exportamos frangos e porcos,mas também milhões de litros de água de nossos rios,como o Uruguai.

Com uma transição energética lenta,intensas mudanças climáticas e crises hídricas em muitos pontos do planeta,não há muito espaço para alimentos baratos e abundantes.

Daqui para a frente,será preciso abordar alguns temas-chave,como segurança sanitária,e ir um pouco mais a fundo em certos dilemas. Um deles: há uma parte da humanidade com fome,outra mal alimentada,a julgar pela obesidade,diabetes,doenças cardíacas e alguns tipos de câncer. A produção industrial baixou preços,mas trouxe gastos em áreas que não são dela,como a saúde.

Nesse horizonte de crise,alimento para pensar não pode faltar em nossa cabeça.