Pistache até na esfirra? Febre triplica a importação, e Embrapa tenta ‘tropicalizar’ produção

Brasileiro aderiu ao gosto por pistache: ingrediente presente em sobremesas e itens salgados — Foto: Divulgação

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 13/01/2025 - 19:43

Brasil busca cultivar pistache nacionalmente em parceria com a Califórnia.

Brasil se prepara para cultivar pistache nacionalmente em 2027,devido ao aumento da demanda e importações triplicadas desde 2022. Em parceria com a Califórnia,o projeto visa tropicalizar a planta. Desafios burocráticos e agronômicos precisam ser superados para colher pistaches entre 2035 e 2040. O sucesso nos EUA impulsiona a diversificação de mercados,e chefs inovam em receitas com o ingrediente,como pão de queijo e até ovo de Páscoa.

O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.

CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO

Até pouco tempo produto de consumo mais restrito,o pistache passou a fazer parte do dia a dia dos brasileiros: está presente em sobremesas como sorvete e cheesecake,e agora até na esfiha e no pão de queijo. Não à toa,virou meme. Essa febre do pistache fez com que as importações triplicassem desde 2022. O volume passou de 350 toneladas para mil toneladas em 2024.

Vai um churrasco de jaca aí? Veja como a fruta entrou nos cardápios,da coxinha ao estrogonofeCerveja e até brigadeiro de palmito? Conheça a fazenda em SP onde tudo é feito de pupunha

Com tamanho interesse,fica a pergunta: por que não cultivá-lo no Brasil? Hoje,100% do pistache consumido no país é importado,mas,de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária),há pesquisas em andamento para que o cultivo-piloto seja iniciado no Ceará,em 2027.

Para isso,ainda neste primeiro semestre de 2025,a Embrapa Agroindústria Tropical apresentará à Federação de Agricultura e Pecuária do Ceará um planejamento detalhado do projeto para “tropicalização do pistache”. Uma vez aprovado o plano,caberá à federação obter recursos para financiamento do projeto.

BBB de camarões e peixes: startup que monitora tanques de criação recebe aporte de R$ 2 milhões

EUA,o maior fornecedor

A ideia consiste em,num primeiro momento,levar profissionais da Embrapa a uma imersão na Universidade da Califórnia,no Centro de Pesquisa de Frutas Nozes,para conhecer características de cultivo do pistache na Califórnia.

Hoje,os EUA são os principais fornecedores de pistache do mundo,com 63% da produção mundial. A liderança é resultado de um século de melhoramento da planta,para alcançar a “temperalização do pistache”. Isto é,a aclimatação da planta ao clima da Califórnia,já que o pistache é originário da Pérsia,região que atualmente corresponde ao Irã — local de clima frio.

Mais cara do mundo: Conheça a carne Wagyu,que produtores tentam tornar acessível no Brasil

Mas para aclimatar a planta aos trópicos cearenses a partir das variedades americanas o caminho deve ser longo. Segundo Gustavo Saavedra,chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical,será necessário um trabalho de dez a 15 anos de pesquisas,para desenvolvimento de novas variedades adaptadas à região.

Embrapa vai enviar pesquisadores em uma imersão na Universidade da Califórnia,para conhecer características de cultivo do pistache — Foto: Universidade da Califórnia/Divulgação

O pesquisador diz que há etapas burocráticas e agronômicas a serem vencidas. Entre as burocráticas: conseguir que os EUA cedam amostras de material genético das plantas,que o Ministério da Agricultura autorize a importação e que o material seja aprovado para entrada no país.

Há ainda desafios agronômicos como o ajuste da necessidades da planta por dias frios,entendimento da floração de plantas macho e fêmeas,adubação e nutrição. Uma vez vencidas essas etapas,a Embrapa estudará a forma de industrialização do pistache.

Se o processo parece longo à primeira vista,Saavedra explica que é o caminho natural de trabalhos científicos desse porte.

Muito além do ‘tomatinho’ e da ‘cenourinha’: Produtores investem em versões mini de legumes e verduras

— Se tudo correr como o planejado,será possível colher pistache no Brasil entre 2035 e 2040 — estima.

Em relatório sobre mercado,o analista do Rabobank,David Maganã,afirma que o sucesso dos EUA no cultivo de pistache na Califórnia fez com que os americanos traçassem uma estratégia para diversificar seus mercados de exportação — e a América Latina era um mercado novo e com grande potencial a ser explorado:

— O Brasil nunca consumiu tanto pistache como agora.

Surfando na onda da semente mais queridinha do momento,os chefs têm usado a criatividade. Inovação parece ser a palavra-chave para conquistar o consumidor.

Muito além da soja: Brasil se destaca na exportação de amendoim com alta de 40% em 3 anos

— O pistache tem sabor que transita bem em receitas doces e salgadas,e sua cor dá um toque visual nas composições — diz Alexandre Martins,engenheiro de alimentos,chef e responsável pela produção de produtos Ofner,rede de confeitaria paulistana. — As pessoas estão apaixonadas por esse ingrediente.

Até pão de queijo

Desde o ano passado,quando lançou o “Festival do Pistache”,a Ofner incorporou mais de dez itens de pistache no cardápio. Entre as opções,tem frapê,gelato,brigadeiro e o surpreendente pão de queijo. Com o sucesso do panetone no Natal,a rede já se prepara para a Páscoa,diz:

— Já temos o piloto pronto. O ovo de Páscoa será ao leite,com suaves pedações de pistache e bombons crocantes com o ingrediente.

Apesar do preço elevado do pistache,que gira em torno de R$ 220 o quilo,redes de fast-food conseguiram incluir itens com o ingrediente no menu,com valores mais acessíveis. O Habib’s incluiu esfiha aberta salgada de pistache,e o Bob’s apostou em creme de pistache,parecido com milkshake.