Equipes de zoonoses realizam trabalho de campo no combate aos focos do mosquito da dengue em Osasco (SP) — Foto: Agência Brasil
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 10/01/2025 - 21:44
"Alerta em São Paulo: Dengue em Alta em 2025"
A dengue segue em alta em São Paulo,com mais de 18 mil casos nas primeiras semanas de 2025. O sorotipo 3 preocupa,e a imunidade coletiva é baixa. As vacinas ainda não são amplamente adotadas. Medidas tradicionais de controle são mantidas,e especialistas alertam para a importância de procurar ajuda médica ao surgirem sintomas.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Após ter registrado um recorde no número de casos de dengue em 2024,de São Paulo se prepara para mais um ano complicado de epidemia em 2025. Com 18 mil casos já diagnosticados em janeiro (4.300 confirmados por exames laboratoriais),médicos temem que o vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti se mantenha presença forte no estado,sobretudo no interior.
Pelo menos 21 municípios já haviam decretado situação de emergência por conta da doença até a última sexta-feira,metades deles nas divisões norte e noroeste do estado. As regiões mais críticas são as de São José do Rio Preto e Araçatuba. Na Grande São Paulo a incidência é menor,mas os números absolutos preocupam,porque já há mais de 400 casos confirmados clinicamente e outros 1.100 em investigação.
A capital teve no ano passado um recorde histórico no número de casos,saltando de 14 mil casos para mais 623 mil no ano,um aumento de 4.336%. Como a estação epidemiológica deste ano é na verdade uma continuação da que vinha sendo registrada desde o início do verão em dezembro,médicos temem que a onda de casos ainda esteja se sustentando.
O grande fator ambiental por trás do recorde de dengue é ambiental: o aquecimento global,que facilita a reprodução do mosquito com calor e instabilidade no regime de chuvas. Mas há ainda outros dois fatores que preocupam a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI),que monitora os casos no estado: a maior presença do sorotipo 3 do vírus no país,e a imunidade coletiva relativamente baixa da população.
— São Paulo é o estado que tem um maior número de cidades com alta taxa de população por metro quadrado,e isso impulsiona a transmissão da dengue — afirma o infectologista Alexandre Naime coordenador científico da entidade e professor da Unesp de Botucatu. — Outros lugares como Rio de Janeiro,Bahia e Minas Gerais também têm esse perfil,mas esses estados já sofreram epidemias em anos recentes,e a população tem alguma imunidade natural mediada pelo próprio contato com o vírus. Agora é a vez de São Paulo.
A última vez que o estado teve uma epidemia na escala da de agora foi em 2015,com mais de 100 mil casos no ano. Ao longo de uma década,a população se renovou muito,provavelmente diminuindo a imunidade coletiva,diz o especialista.
O sorotipo 3 é um problema à parte. Segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo,já há alguns registros de casos dessa variedade no estado,mas ainda longe ainda de representarem maioria. É preciso manter a vigilância,porém.
— Se viermos a ter uma alta proporção de sorotipo 3 aqui em São Paulo seria uma catástrofe,porque ele nunca circulou aqui com alta prevalência aqui,e nós só criamos imunidade contra os sorotipos com que temos contato — diz Naime.
No ano de 2024,a incidência de dengue em São Paulo foi a terceira maior do país,perdendo apenas para o Acre (onde o vírus tipo 3 está muito presente) e para o Espírito Santo,outro lugar que não teve epidemia tão forte no ano anterior,2023.
Um sinal de que o ano de 2025 não deve trazer necessariamente um arrefecimento da pandemia é que as estatísticas de caso não estão perdendo fôlego. Tanto no ano passado quanto agora,a primeira semana de janeiro teve notificação de cerca de 15 mil casos.
— Ainda não sabemos dizer se a gravidade da epidemia vai ser igual à do ano passado,mas estamos acompanhando com preocupação,tentando fazer projeções com modelos preditivos — afirma Regiane de Paula,coordenadora estadual de vigilância epidemiológica. — No ano passado a gente teve a circulação dos sorotipos 1 e 2 do vírus,e só mais tardiamente do 3,que está se mantendo. Estamos monitorando.
Com a vacina da dengue da Takeda disponibilizada apenas para crianças de 10 a 14 anos por enquanto,e a vacina do Butantan na fase final de aprovação,a imunização pela agulha ainda não dá conta de segurar a epidemia.
Infectologistas reclamam da baixa procura pela vacina por pessoas que têm filhos nessa faixa etária. No município de São Paulo,até o momento,foram aplicadas 226 mil primeiras doses do imunizante e 127 mil segundas doses. Para completar a imunização do público prioritário são necessárias 373 mil primeiras doses e 472 mil segundas doses.
Nesse contexto,as ferramentas de controle que restam aos municípios são as tradicionais,como a busca ativa de focos de reprodução do mosquito em água parada e a nebulização de inseticida em locais públicos,o popular "fumacê". Na capital,essas medidas de combate estão em andamento.
"Do ano passado para este,nosso número de agentes de saúde foi ampliado de 2 mil para 12 mil,entre agentes comunitários e de combate a endemias,que têm visitado residências,orientando a população sobre formas de prevenção e eliminando focos do mosquito",diz a secretaria municipal de Saúde em comunicado.
Em Rio Preto,região com 53 mil casos por 100 mil habitantes neste ano,o município diz ter aberto mais 55 leitos de internação para acolher quem não melhora com tratamento ambulatorial.
Em Araçatuba (143 casos/100 mil hab.) a secretaria de saúde conta com verbas do SUS e auxílio do estado,mas usou recursos próprios para comprar os testes diagnósticos necessários ao rastreamento da doença.
— Estamos fazendo arrastões,mutirões para conseguir eliminar o maior número possível de criadouros do Aedes. Nas áreas em que a incidência é maior,nós estamos com todos os nossos agentes na rua fazendo o trabalho de visita casa a casa — diz Priscila Cestaro diretora de vigilância epidemiológica de Araçatuba. — Hoje não adianta você focar só no fumacê,porque quando as larvas estão dentro das casas das pessoas,a gente precisa da colaboração delas para eliminar os criadouros.
Segundo Naime,com o vírus à solta,é importante também orientar a população a procurar ajuda quando se depara com os sintomas da dengue.
— Quem tem febre súbita e alta,acima de 38,5°C,com dores no corpo e dor de cabeça precisa procurar imediatamente atendimento médico — diz o infectologista. — Nós conseguimos reduzir muito a mortalidade de dengue quando atendemos os pacientes logo nos primeiros dias de sinais e sintomas.