Na América Latina, menos de um terço vê seus países preparados para a IA e mais da metade quer regulação

Pessoa utiliza aplicativo do ChatGPT no smartphone — Foto: Bloomberg

RESUMO

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GERADO EM: 09/12/2024 - 23:36

Preparação e Regulamentação da IA na América Latina

Menos de um terço dos latino-americanos se sente preparado para a IA,mas mais da metade apoia regulamentações. Preocupações incluem polarização política e desigualdades. Estudo destaca urgência em garantir que a tecnologia beneficie a todos,evitando repetir erros do passado. Ações coordenadas e inclusivas são essenciais para moldar o futuro da IA na região.

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Menos de um terço (28%) dos latino-americanos do Brasil,Argentina,México e Colômbia acha que seus países estão preparados para lidar com a inteligência artificial (IA). Ainda assim,a maioria dos entrevistados (55%) defende a criação de regulações específicas para a tecnologia,aponta levantamento feito pelo Instituto Ipsos,encomendado pela Fundação Luminate obtido com exclusividade.

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A regulamentação da IA está no cerne das discussões no Senado,que vota nesta terça-feira o projeto de lei sobre o tema. O texto foi aprovado na comissão provisória na semana passada. A proposta estabelece que as empresas que utilizarem conteúdos protegidos para treinar ou desenvolver novos sistemas terão que remunerar os titulares das obras.

No Brasil,o percentual de pessoas que confiam no governo para lidar com a IA é de 29%.

A pesquisa revela ainda que a preocupação com a tecnologia aumenta conforme cresce o nível de entendimento sobre ela. Entre os entrevistados que têm mais conhecimento,65% concordam que a regulamentação é necessária.

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Para Felipe Estefan,vice-presidente da Luminate para a América Latina,o apoio à regulamentação mostra que as pessoas estão preocupadas em garantir que os benefícios da tecnologia sejam distribuídos de forma mais justa. O arcabouço jurídico também é visto como um instrumento para evitar que a tecnologia aprofunde desigualdades e problemas já existentes na região.

— Conforme se aprende e se debate sobre a IA nestes países,ainda mais pessoas tendem a apoiar medidas que levem à inovação com responsabilidade — afirma ele.

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Já é maioria na América Latina (59%) a população que afirma ter um bom conhecimento sobre IA,percentual que fica em 54% no Brasil. Em média,quase metade usa alguma ferramenta deste tipo no dia a dia (46%). E quanto mais as pessoas entendem da tecnologia,mais identificam seus riscos,revela dados da pesquisa.

Ameaça às eleições

A cada dez entrevistados,quatro acham que a IA pode afetar a integridade das eleições,ou seja,comprometer a transparência do processo eleitoral. A proporção sobe para 47% entre aqueles que dizem ter um bom conhecimento sobre essas ferramentas. Há ainda o receio de que a IA aprofunde desigualdades sociais,percentual que chega a 37% e vai a 44% entre os que têm mais domínio sobre o tema.

Outra preocupação é com a polarização política,em que 43% temem que o conteúdo gerado pela IA online possa intensificar esse fenômeno,o dobro de quem não concorda com essa visão (19%). Outros 38% foram neutros ou não responderam a pergunta.

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O uso de IA por políticos para direcionar campanhas ao eleitorado já é uma realidade,mas a prática é considerada inaceitável por pelo menos metade das pessoas pesquisadas (50%) na Argentina,Brasil,Colômbia e México. Esse mesmo percentual acha impróprio um governo utilizar IA para determinar quem tem ou não direito a benefícios sociais,por exemplo.

A tecnologia também é rejeitada em outros contextos,com 54% dos entrevistados sendo contra o uso de IA para sentenças judiciais e 51% sendo contra seu uso para redigir leis.

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Para Estefan,da fundação Luminate,a sofisticação das ferramentas de IA generativa - capazes de gerar textos,imagens e áudios em segundos - já torna mais difícil às pessoas distinguirem o verdadeiro do falso,o que amplia a urgência dos governos se posicionarem para garantir ferramentas que funcionem a serviço do interesse público,sem sufocar a inovação.

O momento é também oportuno,na visão do especialista,para que a sociedade evite repetir os erros cometidos com relação às plataformas de mídia social,em que a falta de responsabilização das Big Techs - como Google,Facebook e Apple - trouxe consequências às democracias,como a “disseminação de desinformação,discurso de ódio,aumento da polarização,vigilância excessiva e danos a populações vulneráveis”.

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Estefan considera fundamental que os diferentes poderes do Estado ajam de forma coordenada e convidem para o debate as pessoas que tendem a ser mais afetadas pelas possíveis consequências da IA.

— Por exemplo,as experiências e preocupações das pessoas negras precisam estar no centro dos esforços para que o desenvolvimento e a aplicação da IA no país não reproduzam o racismo. IA não é só sobre tecnologia,é sobre como nossas vidas e nossos países serão no futuro.

Regulação própria

Estefan lembra que a regulamentação já tem avançado em países do Norte Global,conforme relatório da ONU divulgado em setembro. Nesse sentido,ele argumenta que aprender com as experiências internacionais e usar padrões globais como referência são tarefas importantes.

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No entanto,ele ressalta que é preciso fugir da tentação de incorporar essas estruturas legais a outros contextos sem considerar as particularidades de cada região.

— Levar em consideração o contexto de cada região ao desenvolver abordagens regulatórias é essencial para evitar a criação de políticas ineficientes e arriscadas. A América Latina tem uma oportunidade de acertar quando se trata de garantir que os direitos humanos e a justiça social estejam no centro da revolução tecnológica que estamos vendo,e se tornar um líder global neste assunto. Mas precisa agir agora — conclui.

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