Quais são as propostas de Kamala e Trump em cinco temas-chave?

questoes-trump-harris — Foto: Arte O GLOBO

Em algumas horas,as urnas nos Estados Unidos serão fechadas e terá início aquela que promete ser uma das mais imprevisíveis e tensas apurações da História recente do país. Quem será o próximo presidente a comandar a Casa Branca: a vice-presidente democrata Kamala Harris ou o ex-presidente republicano Donald Trump? As últimas pesquisas de opinião são inconclusivas. Tudo parece colocar os dois candidatos de lados opostos e sete em cada dez americanos relatam estar preocupados com o resultado do pleito. Mas o que está em jogo em termos políticos nesta campanha rodeada de uma atmosfera polarizada?

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Veja abaixo cinco temas cruciais da corrida eleitoral americana:

Após três anos de inflação elevada,o poder de compra é um tema de grande preocupação para muitos cidadãos americanos. Já uma questão que não está no topo da lista de prioridades dos candidatos é a redução da crescente dívida nacional. Tanto Trump quanto Kamala lançaram provisões caras sem especificar como cobririam o custo. Apesar disso,23 ganhadores do Prêmio Nobel de Economia dos EUA endossaram a agenda de Kamala,chamando-a de “muito superior” à plataforma de Trump em uma carta recente.

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O ex-presidente,que em sua gestão reduziu os impostos para os mais ricos e as empresas,prometeu aumentar as taxas sobre todas as importações em mais de 10%,o que,segundo ele,permitirá financiar uma ampla redução de impostos. O candidato republicano também se comprometeu a tornar os EUA "a capital mundial do bitcoin e das criptomoedas" e diz que vai “acabar com a inflação e tornar os EUA acessíveis novamente”. A plataforma de Trump faria com que a dívida nacional aumentasse em cerca de US$ 7,8 trilhões,de acordo com um relatório atualizado do Comitê para um Orçamento Federal Responsável.

A democrata,por sua vez,apresentou-se como a candidata da classe média e quer criar uma "economia de possibilidades". Embora tenha assumido alguns dos compromissos do presidente Joe Biden sobre a taxação das grandes fortunas,também os moderou. A vice-presidente promete uma série de medidas que aliviariam a carga tributária das famílias,incluindo uma expansão dos créditos fiscais para crianças,ajuda para dar acesso à habitação e incentivos à criação de empresas. O plano da democrata aumentaria a dívida em quase US$ 4 trilhões na próxima década.

Independentemente de quem ganhar a Casa Branca,a eleição deste ano provavelmente marcará o fim do sistema de asilo como os americanos o conhecem. Trump e Kamala oferecem perspectivas totalmente diferentes sobre a política de imigração,mas ambos prometem restrições abrangentes à concessão de asilo,sinalizando a revisão de compromissos de longa data que tornaram os Estados Unidos um líder global na ajuda a refugiados.

Para o republicano,a situação na fronteira com o México é uma prioridade. É também um tema sensível da campanha,no momento em que foi registrado um recorde de entradas ilegais durante o governo de Joe Biden. Trump,que em sua campanha de 2016 prometeu construir um muro ao longo da fronteira,foi ainda mais longe desta vez,planejando a maior operação de expulsão de migrantes ilegais da história americana.

Sua retórica xenófoba e desumanizante sobre os migrantes se repete em seus discursos,nos quais descreve a chegada de imigrantes ilegais como "uma invasão" e "o envenenamento do sangue americano".

Na defensiva sobre a questão,Kamala propõe-se a seguir uma política dura,afirmando que faz falta que as pessoas que entram ilegalmente no país enfrentem "consequências",e apoiou um projeto de lei de Biden para endurecer a política migratória,principalmente através do investimento em barreiras físicas.

No papel de vice-presidente,a democrata foi encarregada de combater as causas fundamentais da crise na fronteira sul e ajudou a levantar bilhões de dólares de dinheiro privado para fazer investimentos regionais com o objetivo de conter o fluxo para o norte. Os republicanos a apelidaram de “czar da fronteira" e a responsabilizaram pelo alto fluxo de imigrantes no país e pela crise de segurança nacional que,na visão do partido,é fruto disso.

O direito ao aborto pode motivar mais cidadãos americanos tradicionalmente menos politizados a comparecer às urnas,sobretudo as mulheres,o que pode favorecer os democratas,visto que referendos sobre a questão serão realizados em 10 estados paralelamente às eleições presidenciais.

Esta é a primeira votação para presidente nos EUA desde que a Suprema Corte,para o qual Trump nomeou novos juízes,reverteu a proteção federal do aborto em junho de 2022,anulando a decisão "Roe vs. Wade" que garantia o direito ao aborto às americanas desde 1973.

Hesita sobre o assunto e já mudou de opinião várias vezes,sugerindo que votaria a favor da expansão da garantia legal na Flórida para até 24 semanas de gravidez,mas depois dizendo que faria justamente o contrário.

Também afirmou que,se eleito,não assinará decreto federal proibindo a interrupção da gravidez,por três vezes proposto por deputados de seu partido no Congresso nos últimos anos,e que “oferecerá tratamentos de fertilidade gratuitos”,sem detalhar como arcaria com os custos em país sem sistema público de saúde.

O ex-presidente defende ter deixado o tema nas mãos dos estados após a decisão da Suprema Corte,mas considera que alguns "foram longe demais". Segundo o candidato,seu governo será "ótimo para as mulheres",mas deu a entender que poderá usar seu poder como presidente para limitar o acesso aos medicamentos abortivos.

Fez deste assunto uma questão fundamental em sua campanha e culpa seu adversário pela situação atual,que descreve como "horrível e de partir o coração". A democrata quer uma lei federal que restabeleça as disposições da decisão judicial de 1973.

Com uma campanha desenvolvida em um contexto de guerras no Oriente Médio e na Ucrânia,a postura de ambos os candidatos está sendo observada por determinados grupos de eleitores. Ambos manifestaram apoio ao “direito de defesa” de Israel e não parecem cogitar a possibilidade de cortar o fornecimento de armas ao seu aliado para forçar um cessar-fogo em Gaza. Mas a vice-presidente tentou equilibrar seu discurso ao abordar o sofrimento dos palestinos,os danos “devastadores” e “as vidas inocentes perdidas” com a retaliação israelense. Ela defende há muito tempo uma solução de dois Estados entre israelenses e palestinos e pediu o fim da guerra no enclave.

Com uma política externa isolacionista,o republicano considera que os EUA nunca foram tão pouco respeitados no mundo e garante que resolverá estes conflitos rapidamente. Na Ucrânia,ele diz que encerraria a guerra em 24 horas por meio de um acordo negociado com a Rússia. Também criticou o amplo financiamento de Washington a Kiev desde 2022.

Prometeu que continuará "firmemente do lado da Ucrânia pelo tempo que for necessário" e não será "amiga de ditadores",ao contrário de seu adversário. Ela se comprometeu,se eleita,a garantir que os EUA,e não a China,vençam “a competição do século XXI”. Também defende há muito tempo uma solução de dois Estados entre israelenses e palestinos e pediu o fim da guerra em Gaza.

Os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gases de efeito estufa no mundo depois da China,mas a questão quase não foi abordada pelos candidatos,que têm visões completamente opostas sobre o tema.

É cético em relação às mudanças climáticas e quer eliminar os subsídios às energias renováveis e aos carros elétricos que,em sua opinião,prejudicam as empresas. Ele também prometeu "perfurar [petróleo] a todo o custo",revogar muitas das “regulamentações climáticas kamikaze” do governo Biden,e planeja sair novamente do Acordo de Paris,que visa limitar o aquecimento global e combater as alterações climáticas. No último governo Trump,houve tentativas de revogar mais de 100 proteções ambientais

Embora não tenha apresentado um plano detalhado de ação climática,está empenhada em "continuar e desenvolver a liderança internacional dos Estados Unidos na questão do clima" e apoiou grande parte do plano de transição energética de Biden. Enquanto senadora pelo estado da Califórnia,apoiou o "Green New Deal",uma resolução que visa reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito de estufa.