Luiz Henrique comemora o gol marcado sobre o Atlético-MG,pelo Campeonato Brasileiro — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Um professor da faculdade ensinou à minha turma que,no jornalismo esportivo,identificar padrões facilita a achar ângulos para as notícias. Se no mesmo fim de semana Bragantino,Corinthians,São Paulo e Palmeiras perdem seus jogos,sobressai o fato de que todos os paulistas da Série A foram derrotados,puxa-se a “estatística” de quando isso aconteceu pela última vez,etc e tal. Até vai,mas hoje temo a confusão entre curiosidade e conhecimento.
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As semifinais da Libertadores ainda não estão terminantemente decididas,mas convenhamos que Botafogo e Atlético-MG estão quase na final. Pois bem. Qual a semelhança entre ambos,além de serem brasileiros e alvinegros? São dois clubes-empresas! Pronto,já tem gente subindo nas costas dos jogadores de ambos os times para fazer a seguinte análise: eles estão bem-sucedidos porque são SAFs,com estruturas totalmente profissionais. Aquele velho papo.
Comecemos a desmistificar essa história por um aspecto que deveria ser meio óbvio. Todos os clubes ditos grandes são inteiramente profissionais. Aquela associação que você enche a boca para dizer que é mal gerida tem diretores,gerentes e funcionários remunerados,portanto profissionais. O Corinthians é profissional,oras bolas. Profissionalização não é um fenômeno que teve início com o advento das SAFs no Brasil,mas muitos anos antes delas.
Ah,sim,você quer dizer que os dirigentes são amadores; o presidente,os vices,aquela turma. Pois no Atlético-MG o presidente da associação,Sérgio Coelho,continua a participar da administração da SAF em sintonia com a família Menin. Assim como no Botafogo o presidente da associação,Durcesio Mello,está alinhado a John Textor. Eles podem não ser detentores do controle,da participação majoritária,mas as estruturas não eliminaram a figura amadora.
O Atlético-MG,aliás,é o exemplo cabal do que importa. O que mudou o time de prateleira nos últimos anos não foi a mudança do CNPJ,a constituição da SAF,a lei,mas os investimentos que os Menin e alguns torcedores fizeram no clube. O dinheiro chegou pela via do mecenato,da associação civil sem fins lucrativos,da guerra política no Conselho Deliberativo. A empresa “só” foi o meio para formalizar a propriedade que já pertencia,informalmente,a eles.
No caso do Botafogo,pode-se dizer que a SAF possibilitou chegar a um lugar que o futebol não alcançaria se ainda fosse comandado pela associação. Pois se não houvesse a estrutura empresarial,não haveria a venda de 90% para Textor,consequentemente não teria aporte de dinheiro algum da parte dele,logo não haveria os reforços que estão em campo. Porém,fosse essa a fórmula da felicidade,o Vasco não estaria onde está. Para citar um exemplo contrário só.
Sucesso esportivo depende de ene fatores. Investimento,decisões acertadas em vários departamentos,sobretudo o de futebol,e o mais difícil de todos: a sorte. Às vezes,a bola entra por acaso. Ou deixa de entrar. Embasar uma análise do tipo “SAF deu certo” ou “deu errado” nos resultados do campo,seja os finalistas da Libertadores,seja os rebaixados do Brasileirão,é meio caminho para a confusão. Melhor tratar curiosidades como elas são,meras curiosidades.