Debate da TV Globo: Boulos e Nunes têm confrontos sobre segurança, descriminalização de drogas e concessões

Nunes e Boulos no debate da RV Globo,nesta sexta — Foto: Reprodução

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) participam na noite desta sexta-feira (25) do último debate da eleição à prefeitura de São Paulo,promovido pela TV Globo. Ao longo do programa,os principais confrontos foram ligados à segurança — com o atual prefeito acusando o adversário de conivência com a questão e o deputado federal relembrando investigações sobre supostos laços do Primeiro Comando da Capital (PCC) na prefeitura — e a temas como descriminalização das drogas,concessões de serviços públicos e emprego.

A TV Globo realizou debates em 36 cidades,incluindo 15 capitais. O confronto da capital paulista foi mediado pelo jornalista César Tralli e contou com uma plateia de convidados da emissora e dos candidatos.

Nunes iniciou o debate questionando Boulos repetidas vezes sobre segurança pública. Destacando a intenção de contratar mais dois mil guardas civis metropolitanos e expandir a operação delegada,o candidato perguntou ao adversário o por quê de o psolista não ter votado favoravelmente a um projeto de lei do deputado Kim Kataguiri (União Brasil) que aumenta das penas para os crimes de furto e roubo estabelecidos no Código Penal brasileiro.

— Queria perguntar por que não votou favorável e se você é contra o aumento de pena para criminosos — questionou o prefeito.

Boulos iniciou a resposta tentando se colocar como o candidato da mudança. O deputado federal desfilou pelo auditório,usando o mapa interativo da capital no centro do estúdio para mostrar a região onde mora e por onde passou durante a campanha. Sobre a questão de Nunes,disse que não votou no projeto porque não estava na sessão da Câmara.

— Sessão da Câmara,você está lá no momento. Nesse momento eu estava em reunião no Palácio do Planalto com o presidente Lula — disse o deputado federal.

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O deputado do PSOL afirmou que,caso eleito,ampliaria o Smart Sampa,programa de monitoramento de câmeras da prefeitura de São Paulo,enquanto se defendia de alegações de Nunes sobre ser favorável à descriminalização das drogas.

— O tema da descriminalização,o que eu sempre defendi,é a diferenciação entre usuário e traficante. Traficante de droga é criminoso e caso de polícia. Usuário tem que ser recuperado,tratado — disse Boulos.

— O problema é que você sempre defendeu aborto,desmilitarização,que é o fim da PM. A pessoa pode mudar,mas você está mudando pelo período eleitoral — rebateu Nunes.

Em 2018,quando era candidato à presidência,uma das propostas de Boulos era a desmilitarização da Polícia Militar. Na época,o psolista dizia que o modelo da força de segurança era responsável por um “genocídio da juventude pobre e negra no Brasil”. No plano de governo naquele pleito,ele defendia a “desmilitarização total das forças policiais” e o “fim da política da guerra às drogas”,com a construção de uma nova política de drogas”. No documento,Boulos propunha uma lei “que anistie as pessoas presas injustamente por tráfico de drogas”,referindo-se àqueles presos com poucas quantidades de entorpecentes,o que ele chama de “varejo” do tráfico.

Reagindo a tentativas de Nunes de levar o debate para a pauta a temas caros do eleitorado conservador,Boulos procurou colar a rejeição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao adversário,de quem é aliado. O psolista insistiu na mesma pergunta por três vezes e viu Nunes evitar se comprometer com críticas ou elogios ao ex-presidente da República.

— (Você) dizia que era a favor da vacina,aí recebeu o apoio do Bolsonaro e passou a dizer que era contra a vacina. Dizia que o Bruno Covas tinha acertado na pandemia e começou a dizer que o Bolsonaro fez tudo certo na pandemia. Tem vídeo seu dizendo que o Bolsonaro fez tudo certo na pandemia. Você tem coragem de repetir? — disse o psolista.

— Não fique inventando história,não. As pessoas não são bobas. O que eu falei e vou voltar a falar é que São Paulo,sob a minha gestão,se tornou a capital mundial da vacina — respondeu Nunes antes de indagar qual a opinião do deputado sobre o uso de fuzis pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Boulos então sustentou que os fuzis comprados “não foram usados uma única vez” e diferenciou traficantes de drogas de usuários.

— Vou subir na minha rede social o vídeo dele dizendo que o Bolsonaro fez tudo certo na pandemia. Vou te dar uma última chance — insistiu Boulos.

— Nunca mudei minha posição de nada. Você tomou a vacina,certo? Eu tomei a vacina. A vacina que você tomou foi o Bolsonaro que mandou para cá. As vacinas que chegaram nós fizemos a distribuição — afirmou o prefeito paulistano,argumentando que cumpriu o seu papel no cargo e não é “julgador do presidente”.

Boulos,que adotou uma postura mais bélica,foi quem mais usou frases de efeito contra o adversário ao longo do programa. O psolista recomendou o prefeito à ir tomar água (“está gaguejando um pouquinho”) e acusou o dirigente municipal de ter "duas caras". Boulos disse que a gestão de Nunes “deixa as pessoas para trás” e que o prefeito “não teve pulso para enfrentar a Enel como deveria”,em uma primeira e rápida menção ao apagão que atingiu a cidade há duas semanas.

O candidato do PSOL também focou as perguntas em outra concessão,a dos serviços funerários da cidade,indagando o prefeito se ele sabia o custo de uma oração em um cemitério. Nunes se esquivou num primeiro instante,destacando o que tem chamado de “parceria” com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ao retomar o tema da pergunta,reclamou que Boulos estava tentando pregar uma “pegadinha” e disse que o serviço funerário público era um dos “mais mal avaliados pela população” e que há gratuidade para famílias inscritas no CadÚnico.

Na tréplica,o candidato do PSOL disse que o custo de uma oração é de R$ 580 em um cemitério privatizado. “Teve gente que teve que fazer a oração na calçada”,completou. O prefeito disse que “vai continuar a melhorar o serviço” e justificou que a concessão ainda é recente,e que “tem um prazo para poder adequar”. Afirmou que sua gestão defende parcerias com o setor privado e o “enxugamento da máquina pública”.

Ao longo de todo o embate,Boulos tentou associar o adversário a supostas falta de firmeza,insegurança e arrogância,estratégia que tem adotado desde o começo do segundo turno e que dialoga com o discurso de Pablo Marçal (PRTB) contra o prefeito,a quem apelidou de “bananinha”. Disse que o atual prefeito estaria “meio apavorado,um pouco com medo,assustado de discutir as questões olho no olho”.

A tática apareceu,por exemplo,quando Nunes tentou emplacar,no quarto bloco,uma piada sobre Boulos “invadir o seu espaço” ao vê-lo se aproximar.

— Se você não consegue ter uma postura firme num debate,diante das pessoas que estão assistindo,imagina defendendo os interesses da cidade — declarou a certa altura o psolista.

Saúde e emprego

No segundo bloco,o debate sobre saúde foi repleto de promessa,críticas e acusações. Boulos questionou principalmente o investimento na área e renovou promessas como a Poupatempo da Saúde e a construção de Unidade de Pronto Atendimentos (UPAs). Nunes destacou que na sua gestão abriu 19 UPAs e que abriu dez hospitais,e que pretende fazer um “paulistão da saúde” em cada região da cidade.

— Por que mesmo tendo dinheiro em caixa você não melhorou a saúde das pessoas? — disse o psolista.

O prefeito prometeu ampliar os investimentos na área:

— Não existe essa conta com a forma que você coloca. Nós temos hoje um caixa saudável,tudo que a gente tem está empenhado ou comprometido para os pagamentos. O saldo hoje deve estar em torno de R$22 bilhões,o que não quer dizer que está com dinheiro livre — disse o prefeito.

O dirigente municipal reconheceu que tem muita coisa para fazer,mas que,se eleito,pretende inaugurar mais 25 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 15 UPAs.

— Das UPAs que ele fala que fez,três foram do Doria. Acho que ele se vê como continuidade do governo do Doria,então é natural que coloque desta maneira — provocou Boulos,que disse que o adversário teve tempo para avançar projetos,mas não realizou.

Outro tema escolhido por Nunes para discussão no segundo bloco foi trabalho. Num primeiro momento,os candidatos confrontaram propostas: Nunes exaltou os programas Meu Trampo e Avança Tech,de sua gestão,enquanto Boulos disse que oferecerá cursos profissionalizantes nos CEUs,os Centros Educacionais Unificados.

Mas logo a troca de acusações voltou à tona. O emedebista questionou Boulos sobre o voto de seu partido,o PSOL,em relação a um projeto que pretendia isentar serviços de streaming. O deputado justificou que o partido se opôs apenas a um trecho do texto que versava sobre outro temas e ironizou o fato de Nunes ter faltado a dois debates durante a campanha para o segundo turno.

— De novo com essa mentira. Eu já esclareci isso em outro debate. Num dos que você foi,porque já fugiu de um monte,como foge das responsabilidades — afirmou,emendando com um questionamento sobre investigações a respeito da extorsão de agentes de fiscalização a vendedores ambulantes.

Com seu tempo de fala esgotado,o prefeito viu Boulos elencar uma série de suspeitas contra sua gestão. O deputado citou compras superfaturadas e contratos emergenciais firmados pela prefeitura. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM) fiscaliza um suposto conluio em contratos de 223 obras emergenciais em São Paulo durante a gestão do emedebista. Segundo reportagem do UOL publicada em março,223 de 307 contratos para obras emergenciais sem licitação realizadas pelo prefeito têm indícios de combinação de preços entre as empresas que entraram na concorrência. O prefeito negou qualquer irregularidade.

— Você vir aqui e falar que é contra corrupção? Pelo amor de deus. As pessoas estão vendo. Ele (Nunes) teve a chance e não fez. E quando fez,fez mal feito — disse Boulos.

Nunes insistiu que Boulos teve 32 condenações na Justiça Eleitoral por "postar mentiras" contra ele nas redes sociais e no horário eleitoral. Ele refere-se a pedidos de remoção de conteúdos ou de direitos de resposta feitos à Justiça. Em algumas ações,houve determinação da retirada do conteúdo liminarmente das redes sociais,em outros,o julgamento de mérito das ações,com concessão de direitos de resposta a Nunes,inclusive na televisão.

— Não existe nada de errado nas contratações que estou fazendo — defendeu-se Nunes.

Boulos e Nunes também trocaram acusações sobre problemas na Justiça. O deputado resgatou o inquérito da Polícia Federal sobre o desvio de verbas em creches administradas por organizações sociais em São Paulo. A Polícia Federal,em um relatório em 30 de julho,concluiu que houve um esquema de desvio de verbas em creches administradas por organizações sociais em São Paulo. Na ocasião,a PF apontou que é necessária a continuidade das investigações sobre o prefeito Ricardo Nunes por suspeitas de lavagem de dinheiro.

O documento aponta elos entre o prefeito,que na época era vereador,e a Associação Amiga da Criança e do Adolescente (Acria),que gerencia atualmente nove Centros de Educação Infantil (CEIs) em São Paulo. Segundo as investigações,há suspeitas de que essa entidade pagou a Nikkey Serviços S/S,empresa de controle de pragas da família do prefeito que está no nome de sua mulher,Regina Nunes,e de sua filha,por prestação de serviços que não foram de fato prestados. O prefeito nega qualquer irregularidade.

— Eu não tenho nada a esconder. Eu nunca tive indiciamento,condenação. Eu tenho uma vida limpa,nunca tive indiciamento. Uma empresa com quase 30 anos. Minha empresa faz 2 mil serviços por dia. É muito ruim,ele vem querer trazer mentiras — disse Nunes.

O prefeito,por sua vez,leu uma suposta nota da Polícia Civil sobre uma ocorrência em janeiro de 2017,em que Boulos e outro integrante do MTST teriam sido detidos acusados de participar de “ataques contra a Polícia Militar” e dizendo que Boulos “depredou a FIESP”,e se esquivou de pedido do deputado para que abra o sigilo bancário.

— Ele faz tudo para não responder,essa é a tática dele,ficar sabotando — disse Boulos.

Cola no celular e acusações do PCC

Nunes passou boa parte do terceiro bloco do programa consultando papéis e até mesmo o celular. O candidato chegou a ser advertido por duas vezes pelo mediador do debate,o jornalista César Tralli,primeiro por mostrar um número em um documento e depois por usar o aparelho no palco,o que é proibido.

— Diferente dele,eu sei andar de bicicleta sem rodinha,então não preciso ficar lendo as coisas. O Ricardo Nunes parece uma criança,uma rodinha é o Tarcísio e outra é o Bolsonaro. Se não tiver,ele cai — alfinetou Boulos.

Nunes pareceu fazer uso da “colinha” para responder a acusações do adversário sobre a “máfia das creches”,o esquema pelo qual é investigado pela Polícia Federal,apesar de não ter sido indiciado.

O prefeito lembrou de uma denúncia do Ministério Público contra Boulos por supostamente ter depredado uma viatura policial durante um confronto do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) com a polícia no processo de reintegração de posse na Ocupação Pinheirinho,em São José dos Campos,em 2012. O caso acabou prescrito depois que a Justiça teve dificuldades para notificá-lo do andamento da ação penal nos seus endereços informados.

Boulos foi detido três vezes quando estava no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Em resposta,o deputado federal citou a denúncia contra o dirigente municipal por porte e disparo de arma de fogo em Embu das Artes,em 1997.

— Fui para delegacia foi por defender família de sem teto,você,quando foi,foi por dar tiro em teto de boate — disse Boulos.

Em setembro de 1997,quando Nunes tinha 28 anos,ele deu tiros para cima na frente do Caipirão,uma casa noturna em Embu das Artes,na Grande São Paulo. Ele foi conduzido para a delegacia,onde assinou um termo circunstanciado e foi liberado. Na resposta,Nunes disse pontuou que o caso contra ele foi arquivado.

— Foi um problema que teve lá que eu fui separar,não dei tiro ninguém,foi uma confusão com um amigo meu chamado Márcio que eu fui separar — disse o prefeito.

Boulos defendeu-se de menções ao seu passado no MTST com mais ataques a Nunes. Trouxe à tona a ligação de Eduardo Olivatto,chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb),com Marcos Willians Herba Camacho,o Marcola,apontado como a liderança máxima da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo reportagem do portal UOL,a irmã de Olivatto foi mulher de Marcola,mas ela morreu em 2002.

— Você fica toda hora botando medo nas pessoas,me chamando de extremista. Se tem um extremista nesta campanha é você. Você que anda com Bolsonaro. (...) Você que deu tiro em porta de boate. (...) O crime organizado está entrando na prefeitura — disse o deputado. — Por que você indicou o cunhado do Marcola para cuidar das obras da prefeitura?

Nunes defendeu-se que Olivatto é funcionário de carreira da prefeitura,e que “exerce uma função administrativa”. Confirmou,depois,que tem apartamento no mesmo condomínio que Olivatto no bairro de Interlagos,na Zona Sul,mas minimizou o fato.

— Eu tô aqui estarrecido. (Boulos) Não sabe discutir a cidade. O apartamento está no meu imposto de renda,eu adquiri em 2001. Nem conhecia o Olivato. Ele (Boulos) não quer discutir a cidade,ele só quer atacar. Ele só fica atacando e criando mentiras — disse Nunes.

Moradia e população de rua

Nunes escolheu o tema da moradia para abrir o quarto bloco e aproveitou para abordar programas municipais como o Pode Entrar,que adquire imóveis privados para construção de casas populares. O prefeito pretende entregar 72 mil unidades até o final do ano. Boulos disse que concorda com a iniciativa,mas alegou que os números estavam inflados e que ela foi criada pelo prefeito falecido Bruno Covas (PSDB),de quem Nunes herdou o mandato após a sua morte,em 2021.

O psolista foi para o ataque ao mencionar que a cidade tem 80,3 mil pessoas em situação de rua,de acordo com dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População de Rua da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ele,a gestão Nunes ficará marcada como o governo que mais do que dobrou a população que sofre com o problema em São Paulo.

O prefeito rebateu os dados com um censo municipal feito em 2021,cujo resultado seria de 31,8 mil pessoas morando nas ruas. Nunes alegou que ampliou em 15 mil as vagas em abrigos e inaugurou 10 Vilas Reencontro para atendimento. Para o emedebista,“todas as grandes cidades do mundo,as capitais,tiveram aumento nas pessoas em situação de rua por conta da pandemia” e “aqui na nossa cidade a gente agiu muito”.

No tema da mobilidade,Boulos cobrou Nunes sobre obras não entregues durante a gestão do emedebista,como a ponte Graúna-Gaivotas,que deveria interligar bairros da Zona Sul da capital na região da Represa Billings e a duplicação da estrada do M’Boi Mirim.

— A ponte já está com licitação na rua,como é realidade também a extensão da (Avenida) Teotônio Vilela,em início de obras. Eu ajustei a saúde financeira da cidade,e nenhuma dessas obras você faz em poucos meses [...] Ali na M’Boi era uma obra do governo do estado que agora nessa parceria passou para a prefeitura,nós já retomamos,vai sair agora — respondeu Nunes.

O deputado alfinetou o prefeito,na sequência,sobre o subsídio destinado às empresas de ônibus,afirmando que as viagens pelo modal “reduziram em 20%” na capital,afirmação que foi negada por Nunes,que exaltou políticas como o Domingão Tarifa-Zero e disse que os subsídios são necessários para manter a gratuidade para estudantes e a tarifa congelada.

— Estou mantendo a tarifa pelo quarto ano consecutivo congelada,a gente estaria com a tarifa de R$11,20 — respondeu o prefeito. Nunes exaltou então o transporte hidroviário inaugurado pela gestão dele na Billings e Boulos aproveitou a menção ao programa para relembrar que,inicialmente,quem operaria os barcos na região seria a Transwolff,empresa investigada por suspeita de laços com o PCC.

— Ele falou aqui que infelizmente mais uma inverdade,que eu dei o transporte aquático para a Transwolff. Quem opera é a SPTrans — disse Nunes.

Live com Marçal e vantagem de Nunes

À frente nas pesquisas,Nunes procurou se resguardar da artilharia de Boulos e faltou a debates de jornais e emissoras de rádio e TV no segundo turno. Antes do encontro da TV Globo,o prefeito só compareceu a eventos da Band e da Record. Boulos aproveitou para atacá-lo,insistindo que o adversário seria um “covarde”. Nunes alegou sempre conflitos de agenda.

Nesta sexta,o candidato do PSOL participou de uma live em formato de “entrevista de emprego” com Pablo Marçal (PRTB),em uma tentativa de atrair votos do ex-coach no primeiro turno. Nunes recusou o convite e não atendeu uma ligação feita ao vivo por Marçal após o programa.

— Teve apoiadores meus me aconselhando a não vir. Eu,se fosse levar para o pessoal,seria o último a aceitar o convite,mas eu não me movo por mágoa. Não fujo de debate. E goste ou não,você teve mais de 1 milhão de votos dos paulistanos. Governando São Paulo,eu vou ter que governar para todos — disse Boulos,no programa.

O encontro se soma a uma série de gestos de Boulos para conquistar o público do empresário,estratégia que passou por ampliar as promessas a trabalhadores informais e empreendedores e até por uma peça de propaganda em que supostos eleitores trocam o boné azul do “M” por um similar do “B”.

Levantamento do Datafolha de quinta-feira (24) mostra vantagem de Nunes contra Boulos na reta final: 49% a 35%. No placar de votos válidos,a diferença é de 58% a 42%,com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos. Assim como nas pesquisas da Quaest,a medição sugere que Nunes tem perdido terreno após o apagão que atingiu São Paulo na semana passada. Entre a primeira pesquisa Datafolha,feita logo após o primeiro turno,e a atual,a diferença caiu de 22 para 14 pontos percentuais. A tendência reforça a importância do debate decisivo.

Pesquisa Datafolha: a três dias da eleição,Nunes tem 49% e Boulos,35%

A distância menor de Boulos está ligada,em parte,ao avanço do candidato entre os eleitores que votaram em Marçal,terceiro colocado no primeiro turno. O emedebista captura 74% desses entrevistados,contra 11% do psolista,mas,duas semanas atrás,Boulos tinha só 4%,além de amargar uma rejeição de 92% nesse público que,no levantamento de ontem,caiu para 83%.

A crise do apagão,que deixou milhões de pessoas sem energia após uma tempestade na região metropolitana de São Paulo,no dia 11,foi amplamente explorada por Boulos na reta final da campanha. O psolista acusa a prefeitura e o governo do Estado de negligência na poda das árvores e na fiscalização da concessionária Enel,enquanto o prefeito terceiriza a culpa para o governo federal — a Aneel,autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia,é quem poderia se posicionar sobre a quebra de contrato por falha na prestação do serviço.

Reta final no sábado: 'trombada' em Heliópolis

Boulos fecharia a campanha eleitoral ao lado de Lula (PT) neste sábado,mas o presidente optou por permanecer em Brasília depois de sofrer um acidente doméstico e passar a semana fazendo exames médicos. De qualquer modo,o psolista deve fazer caminhadas pelo centro,em trajeto na Avenida Paulista e na Rua Augusta,e depois em Heliópolis,às 14h30.

Dessa forma,tanto Boulos quanto Nunes farão atos em Heliópolis,uma das maiores comunidades da cidade,no sábado. Nunes convocou uma caminhada no bairro às 12h30,duas horas antes do adversário. As concentrações dos eventos,porém,estarão separadas por 2,7 km,por ficarem em pontas opostas da região. Além disso,Nunes fará caminhadas na Zona Leste pela manhã,irá ao Grajaú à tarde e termina o dia em uma missa em Santo Amaro,na Zona Sul.

Nas agendas do segundo turno,Nunes seguiu colado à imagem do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos),seu principal aliado — que não deve estar nas agendas de sábado,mas ambos votarão juntos no domingo. Além disso,o prefeito finalmente recebeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para um compromisso de campanha,na terça-feira. Além de apostar na migração natural dos votos de Marçal e na alta rejeição de Boulos,o emedebista se esforçou para se apresentar como um “caminho seguro” e com experiência em gestão,depois de exercer o cargo por três anos e meio em lugar do ex-prefeito falecido Bruno Covas (PSDB).

Boulos,organizou uma maratona de agendas na reta final. Como fazia Marçal no primeiro turno,o candidato apostou em ideias incomuns para tentar criar fatos virais. Fez de cinco a oito compromissos por dia nesta semana,mas trocou as tradicionais carreatas e comícios por “debates” com o povo na rua,pernoites na casa de eleitores e até inauguração de box em shopping. Teve,o desfalque de Lula,principal padrinho político do candidato,no segundo turno,devido a compromissos internacionais,chuvas e ao acidente doméstico do presidente.