Nunes mira subgrupos do bolsonarismo por 2º turno e vê radicais com Marçal até o fim

O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição,Ricardo Nunes (MDB),e o rival Pablo Marçal (PRTB): disputa pelo eleitorado bolsonarista — Foto: Fotos de Maria Isabel Oliveira/O Globo

Em sua aposta para conquistar eleitores de Jair Bolsonaro que migraram para a candidatura de Pablo Marçal (PRTB),a campanha do prefeito de São Paulo,montou uma estratégia que dividiu a direita em subgrupos com o intuito de traçar estratégias para fisgá-los e garantir uma vaga no segundo turno.

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Nunes vem fazendo um périplo por canais de influenciadores bolsonaristas,dando entrevistas em que se esforça para mostrar que é de direita,a ponto de mudar de posição sobre o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes – antes,não defendia,agora acha que deve ser avaliado pelo Congresso – e a vacinação contra a Covid-19 – antes considerava que deveria ser obrigatória,agora diz que não.

A estratégia de “dividir para conquistar” leva em conta que nem todos os subgrupos do bolsonarismo aceitariam migrar de Nunes para Marçal,mas baseia-se na avaliação de que uma fatia grande desse eleitorado pode ser conquistada.

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Na leitura da campanha de Nunes e interlocutores que acompanham de perto a corrida paulistana,a ala mais radical dos apoiadores de Bolsonaro não vai aderir ao prefeito por considerá-lo moderado demais e incompatível com o estilo inflamável do ex-presidente,muito mais próximo do ex-coach.

Os famosos que estão concorrendo nas eleições 2024

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Os famosos que estão concorrendo nas eleições 2024 — Foto: Reprodução

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O ator e ex-participante do 'BBB 20' Babu Santana é candidato a vereador no Rio de Janeiro,pelo PSOL — Foto: Reprodução

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O apresentador de TV Dudu Camargo é candidato a vereador por São Paulo — Foto: Reprodução

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Aos 71 anos,o ator Mario Gomes e candidato a vereador no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

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Famoso pelo papel em "Senhora do destino",o ator Agles Steib é candidato a vereador no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

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Adrilles Jorge,ex-"BBB" e comentarista política na Jovem Pan,é candidato a vereador em São Paulo — Foto: Reprodução

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Conhecido pelo pelo personagem Cabeção de "Malhação",Sergio Hondjakoff é candidato a vereador pelo partido Cidadania,do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

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A atriz e apresentadora de TV Cristina Prochaskaé candidata a prefeitura de Ubatuba,em São Paulo — Foto: Reprodução

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O ator Licurgo Spinola,que fez novelas na Globo e na Record,é candidato a vereador em Curitiba,no Paraná — Foto: Reprodução

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Thammy Miranda,filho de Gretchen,é candidato a vereador em São Paulo — Foto: Reprodução

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Ex-Chiquitita,Renata Del Bianco é candidata a vereadora em São Paulo — Foto: Reprodução

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O humorista Marquito é candidato a vereador em São Paulo — Foto: Reprodução

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Ex-ator do 'Teste de fidelidade',Marcos Oliver é candidato a vereador em São Paulo — Foto: Reprodução

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Jornalista,youtuber e participante de "A fazenda",Léo Áquilla é candidata é vereadora em São Paulo — Foto: Reprodução

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Ativista pela causa animal,Luisa Mell é candidata a vereadora em São Paulo — Foto: Reprodução

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São eleitores que apoiaram a pré-candidatura do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e,quando ele saiu da disputa,se bandearam para Marçal a despeito do apoio do PL a Nunes e da indicação do vice bolsonarista,o ex-comandante da Rota Ricardo Mello Araújo (PL).

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Por isso,a prioridade da campanha de Nunes é outro subgrupo bolsonarista que eles calculam ser bastante representativo. São conservadores que não engolem as denúncias de envolvimento de Marçal e aliados do PRTB com a maior facção criminosa do Brasil,o Primeiro Comando da Capital (PCC),nem a condenação do ex-coach por golpes financeiros.

Na avaliação de estrategistas e marqueteiros,esse segmento do eleitorado ainda pode ser cativado,e é em busca deles que se dá a guinada.

Esse bolsonarista faz questão de que seu candidato se declare cristão,contra a “ideologia de genero”,o aborto e descriminalização das drogas,além de ser favorável à anistia aos presos do 8 de janeiro e à abertura do impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

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São justamente as bandeiras que Ricardo Nunes tem explorado em seu périplo por canais conservadores,como mostramos no blog.

Hoje,para aliados próximos do prefeito,a campanha só pode contar com o apoio da fração de bolsonaristas que apoiam a agenda econômica liberal e rejeitam o candidato de Lula na capital,Guilherme Boulos (PSOL),mas não são tão apegados à pauta de costumes e não confiam em Marçal.

Cai como uma luva para essa estratégia o vídeo compartilhado por Bolsonaro nas redes sociais nesta sexta-feira (20) criticando duramente a comparação que Pablo Marçal fez entre a cadeirada que sofreu de José Luiz Datena (PSDB) no debate da TV Cultura no domingo passado com a facada sofrida por ele durante a campanha de 2018,em Juiz de Fora (MG).

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Na gravação,Bolsonaro mostrou as cicatrizes das múltiplas cirurgias decorrentes do atentado e fez um “apelo” para que seus apoiadores votem “não com o coração e a emoção,mas com a razão”. O ex-presidente,então,endossou explicitamente Nunes destacando o candidato a vice,o ex-comandante da Rota Ricardo Mello Araújo (PL),indicação pessoal do ex-presidente.

“Quem está mais preparado para governar São Paulo? O vice do Ricardo Nunes foi indicado por mim,o coronel Mello Araújo,que esteve à frente da respeitadíssima Rota e botou moral e ordem no Ceagesp [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo]”,diz Bolsonaro no vídeo distribuído em sua lista de transmissão do WhatsApp e apoiadores como o pastor Silas Malafaia.

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“Deixo claro,não vou deixar ninguém com dúvida. Se eu fosse eleitor de São Paulo,capital,votaria na reeleição do Ricardo Nunes. Por ele e pelo vice,Mello Araújo”,completa em outro trecho da gravação.

Voto útil

Outro elemento central da estratégia é a defesa do voto útil em Nunes já no primeiro turno para evitar um confronto entre o ex-coach e Boulos,já que as pesquisas de intenção de voto indicam que no segundo turno Boulos poderia ganhar de Marçal – o que tiraria a direita do poder em São Paulo,com forte repercussão para a articulação da direita em 2026.

O principal patrocinador dessa tese é o governador de São Paulo,Tarcísio de Freitas (Republicanos),que entrou de cabeça na campanha do prefeito a ponto de se tornar seu principal avalista no bolsonarismo – mais do que o próprio Bolsonaro.

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Isso porque o ex-presidente tentou se distanciar de Nunes para não perder apoio dos próprios eleitores. Quando Marçal começou a subir nas pesquisas,Bolsonaro chegou a aconselhar Tarcísio a não bater de frente com o ex-coach e argumentou que,se fizesse isso,o governador assinaria seu “atestado de óbito” político.

Depois de alguns erros táticos de Marçal,porém – como chegar no final do ato de 7 de setembro e depois divulgar que foi barrado no carro de som –,Bolsonaro decidiu partir para a briga pública,no que teve o apoio do pastor Silas Malafaia,da Assembleia de Deus.

As pesquisas divulgadas nos últimos dias mostram que o movimento capitaneado por Tarcísio de Freitas começou a dar resultado,apesar da previsão sombria de seu padrinho político.

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Na Quaest,o prefeito passou de 19% no fim de agosto para 24% no último levantamento,divulgado na última quarta-feira. Marçal,por sua vez,saiu de 19% para 24% na primeira semana de setembro,mas caiu para 20% na pesquisa mais recente. Hoje,Marçal aparece sete pontos atrás de Nunes e seis atrás de Guilherme Boulos.

O Datafolha divulgado na quinta-feira registrou movimento parecido. Os dados detalhados das pesquisas mostram que Marçal desidratou entre homens,eleitores jovens,eleitores de Bolsonaro em 2022 e evangélicos.

Ainda segundo o levantamento do instituto,Nunes ultrapassou Marçal entre o eleitorado evangélico. Ele aparece com 32% entre o segmento contra 26% de Marçal. O prefeito cresceu três pontos percentuais em comparação com o levantamento anterior,enquanto o rival do PRTB caiu quatro pontos percentuais.

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Em resposta,Marçal apresentou no debate organizado pelo SBT na última sexta um figurino “paz e amor” que,em suas palavras,representaria “sua melhor versão”. Se a estratégia colará entre os eleitores,somente os próximos levantamentos poderão indicar.

Mas a revelação de uma gravação em que o ex-coach admite ter encenado o vídeo publicado nas redes sociais em que o candidato aparece em uma ambulância recebendo oxigênio a caminho do hospital após a cadeirada de Datena,embora tenha cogitado permanecer no debate e deixado o estúdio caminhando sem dificuldades,pode chamuscar ainda mais a imagem do ex-coach,que tem a maior rejeição entre os candidatos (47%,segundo o Datafolha).

É nesse cenário embaralhado à direita que a campanha de Ricardo Nunes pretende navegar nos próximos dias,certa de que herdará votos de Marçal e de eleitores de centro em um eventual segundo turno contra Boulos sem necessariamente colar em Bolsonaro,que tem alta rejeição na capital.

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Bolsonaro e Tarcísio foram derrotados por Lula e Fernando Haddad (PT) em 2022 na corrida pela presidência e o governo paulista na capital,e o empate técnico com Boulos nas pesquisas sugere que o alinhamento com o bolsonarismo pode ter seu preço.

Um observador atento da disputa em São Paulo argumentou,sob reserva,que o “pedágio” pago por Nunes aos bolsonaristas em canais conservadores deve ajudar a dar impulso nesta reta final – a ponto de o próprio Bolsonaro se sentir à vontade para gravar vídeos em apoio ao prefeito meses após declarar em uma entrevista que o aliado não era “o candidato ideal”.

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É um cenário favorável para a estratégia de dividir o bolsonarismo para conquistá-lo. Mas a dinâmica da disputa em São Paulo neste ano sugere cautela. Com tantos episódios insólitos e reviravoltas desde a pré-campanha,o cenário dos próximos 15 dias até a abertura das urnas no primeiro turno pode estar sujeito a mudanças de última hora.