Na ONU, o 'mundus horribilis' de Lula

Presidente Lula no Palácio do Planalto — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 20/09/2024 - 04:30

Lula promove multilateralismo na ONU: Destaques e desafios.

Lula levará discurso pessimista à ONU,enfatizando a importância do multilateralismo em meio a crises. Enfrentando críticas por suas relações com Putin e Maduro,o presidente busca soluções conjuntas para conflitos,mudanças climáticas e fome. Destaques para eventos com Brasil e Espanha,Consenso de Brasília e proposta Brasil-China para paz na Rússia e Ucrânia. Viagem determinará papel do Brasil como líder global em um cenário de polarização.

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Luiz Inácio Lula da Silva viajará para Nova York amanhã com uma agenda carregada de eventos,reuniões e um discurso pessimista sobre o mundo de hoje. Em poucas palavras,o presidente brasileiro dirá na Assembleia Geral das Nações Unidas,na próxima terça-feira,que o mundo está muito pior do que um ano atrás,e que o melhor caminho para encarar as guerras e a sucessão de crises que se acumulam é o multilateralismo.

Entrevista: 'Há uma sintonia entre o que o Brasil busca e o que fazemos na ONU',afirma presidente da Assembleia-Geral ao GLOBOEm 2023: Lula diz na ONU que guerra na Ucrânia 'escancara incapacidade coletiva' de mediar conflitos

Nesse mundus horribilis,algumas declarações,apostas e posicionamentos do governo Lula custaram caro ao presidente em termos de imagem externa. O chefe de Estado continua sendo uma figura que desperta interesse global,mas há questionamentos por seu relacionamento com a Rússia de Vladimir Putin,suas críticas a Israel no conflito na Faixa de Gaza,e seu esforço por manter um bom relacionamento com a ditadura de Nicolás Maduro. Perguntados sobre as críticas em geral,diplomatas brasileiros costumam dizer que o mundo reclama da “tradicional e histórica postura de não alinhamento do Brasil”,mas,ao mesmo tempo,alguém precisa falar com Putin e Maduro.

Nos últimos tempos,Lula endureceu o tom com o venezuelano,mas os esforços do Brasil não renderam frutos. A repressão nunca foi tão violenta na Venezuela. Os canais de diálogo continuam abertos,mas estão estremecidos. Em Nova York,Lula pretende falar pouco sobre um assunto sensível e que virou,em palavras de fontes diplomáticas,“um beco sem saída”.

O foco do presidente será a defesa de soluções conjuntas para enfrentar conflitos bélicos,mudanças climáticas,ataques à democracia e flagelos como a fome. Haverá um pedido explícito de apoio à proposta brasileira de criar uma Aliança Global contra a Fome,um dos pilares da presidência brasileira do G20,que termina em dezembro.

De toda a agenda do chefe de Estado e de seus ministros e assessores,três eventos têm maior importância em termos da política externa: a cúpula pela democracia e contra os extremismos,na qual Lula estará presente e que foi organizada por Brasil e Espanha; a reunião de chanceleres do chamado Consenso de Brasília,grupo integrado por todos os países da América do Sul,inclusive a Venezuela; o encontro convocado por Brasil e China para discutir a proposta elaborada por ambos os países para tentar encontrar caminhos que levem à paz entre Rússia e Ucrânia — que não terão representantes presentes — na qual o governo será representando pelo assessor especial da Presidência,Celso Amorim.

Segundo fontes oficiais,governos europeus estão “muito interessados” na reunião promovida por Brasil e China. Não há nada novo na mesa,mas Brasília espera que o encontro em Nova York permita avanços. O tema foi tratado no telefonema entre Lula e o presidente da Rússia,Vladimir Putin,na última quarta-feira. Putin,disseram as mesmas fontes,“também se mostrou interessado”. Mas outros já rejeitaram a proposta de brasileiros e chineses,entre eles o governo do presidente ucraniano,Volodymyr Zelensky. Mas o Brasil vai insistir. A visão do governo brasileiro é de que ter uma proposta feita por Brasil e China para lidar com um conflito que tem consequências globais “é algo inédito”.

Em um contexto de polarização política e muita divisão geopolítica,Lula buscará ser um “contraponto”,disseram fontes oficiais. O resultado da viagem dirá muito sobre até que ponto o Brasil pode continuar buscando ocupar espaços de liderança global.