O presidente Lula é recebido pelo líder chinês,Xi Jinping,na chegada ao Grande Salão do Povo,em Pequim — Foto: Ken Ishii / POOL / AFP
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 17/09/2024 - 04:30
China busca acordo de livre comércio com Mercosul,Brasil em destaque
China busca acordo de livre comércio com o Mercosul,incluindo o Brasil. Argentina mudou postura,abrindo caminho. Uruguai alerta Brasil sobre oportunidade. Estudo prevê ganhos econômicos,especialmente para o setor agropecuário. Desafio: negociar estrategicamente. Posição do Brasil em destaque.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Enquanto cresce a expectativa de que o Brasil finalmente anuncie sua adesão ao megaprojeto chinês de infraestrutura conhecido como a “Nova Rota da Seda” (NRS),um movimento paralelo ganha força discretamente em Pequim. Embalado pelo bom momento das relações bilaterais,o governo chinês tornou-se mais ativo no esforço de aproximar o Brasil de outra parceria,esta com consequências econômicas bem mais concretas.
Editorial: China abre novas possibilidades de integração para economia brasileiraEntenda: Acordo da China com Mercosul beneficiaria o agro brasileiro,mas prejudicaria indústria nacional,mostra estudo
Trata-se de um acordo de livre comércio (ALC) Mercosul-China. A ideia circula há mais de uma década,mas ficou na geladeira devido à resistência de setores da indústria,sobretudo de Brasil e Argentina. Ocorre que a posição argentina mudou com a troca de governo em Buenos Aires,no fim do ano passado. Embora tenha manifestado antipatia tanto à China como ao Mercosul em sua campanha,o presidente Javier Milei é um ultraliberal na economia e gosta de acordos comerciais. Mesmo que seja com os “comunistas” de Pequim.
Isso deixou o Brasil exposto como o principal opositor da iniciativa no Mercosul. Talvez o único. Até o governo do Paraguai,que nem relações diplomáticas tem com a China,já declarou que está aberto a um ALC com o país asiático. A Bolívia,que aderiu ao Mercosul este ano,mantém relação estreita com a China. A mudança de ares na Argentina motivou o governo chinês a recolocar o ALC na pauta com o Brasil.
Segundo fontes próximas ao tema,é uma ação sutil e cautelosa,fiel ao estilo chinês de manter sangue frio e “paciência estratégica”. O cuidado de evitar movimentos bruscos é ainda maior por se tratar de uma região tida como esfera de influência dos Estados Unidos. Os novos ares também animam o Uruguai,maior defensor de um ALC Mercosul-China.
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Cansado de esperar,o país decidiu abrir uma negociação com a China no ano passado,com vistas a um tratado bilateral. Mas apesar de bem recebido publicamente pelo governo chinês,a coisa não andou. Na verdade,o Uruguai é usado como uma espécie de “despertador” por Pequim para alertar o Brasil de que esta é uma janela de oportunidade que não ficará aberta para sempre,diz um diplomata com extensa milhagem no assunto.
Por que não ao menos tentar um acordo que poderia resultar na ampliação daquele que é,de longe,o maior mercado para as exportações brasileiras?,questiona o diplomata. Um estudo lançado há poucos dias pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) prevê que o ALC com a China traria ganhos de 1,43% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Obviamente,o grande beneficiado seria o agro,que tem na China seu principal mercado,enquanto a indústria sofreria perdas diante da competitividade da manufatura chinesa.
A principal mensagem do estudo,apontam seus autores,é que a discussão sobre um ALC com a China não pode se restringir apenas a questões comerciais. É preciso ter em mente uma ideia mais ampla dos possíveis ganhos,como a criação de cadeias de produção regionais. Mas isso demanda uma visão estratégica e capacidade de negociação.
Em junho,o tema só apareceu de forma breve nas minutas da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban),reunida em Pequim. E só por insistência da China. Após o encontro,o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o acordo “não é uma decisão do Brasil”,mas do bloco. Com a mudança de atitude na Argentina,ficou mais difícil usar esse argumento para evitar o assunto.