Rock in Rio: 40 anos após a primeira edição do festival, região da Barra ganhou mais transporte e 20% dos leitos de hotel da cidade

A estrutura do Rock in Rio em 1985 — Foto: Frederico Mendes / Editora Globo / Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 12/09/2024 - 04:30

Rock in Rio impulsiona crescimento da Barra: da Cidade do Rock ao megaparque Imagine

Há 40 anos,o Rock in Rio começava em meio a desafios de transporte e hospedagem. Hoje,a região da Barra está mais desenvolvida,com 20% dos leitos da cidade. O festival impulsionou infraestrutura,turismo e eventos,transformando o local em um polo de entretenimento. Novos investimentos e projetos,como o megaparque Imagine,prometem impulsionar ainda mais o crescimento da área. A evolução inclui a transformação do antigo autódromo na Cidade do Rock e a reconfiguração de comunidades locais.

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Naquele 11 de janeiro de 1985,quando Ney Matogrosso abriu a maratona de shows do primeiro Rock in Rio,era um desafio chegar ao local do festival,em Jacarepaguá. Se bem que a memória afetiva de quem esteve por lá é mais dos tênis cobertos de lama que do perrengue do transporte. Há 40 anos não havia metrô,BRTs,ônibus expresso VIP nem mesmo uma rede hoteleira na região ainda pouco povoada. As opções na época foram as linhas regulares de ônibus que deram uma esticadinha até o Riocentro ou a hospedagem nos motéis no entorno.

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Quatro décadas depois,com a expansão da cidade rumo à Zona Oeste e o protagonismo da região por conta de megaeventos,incluindo o próprio RiR,o Panamericano e a Olimpíada,o cenário mudou: aquele trecho cresceu,se separou de Jacarepaguá e virou o bairro Barra Olímpica.

— Há 40 anos,as principais vias do entorno (Estrada dos Bandeirantes e as avenidas Abelardo Bueno,Ayrton Senna e Salvador Allende) não eram duplicadas. Quando vim morar aqui,em novembro de 1994,só havia dois condomínios na Estrada dos Bandeirantes — conta Luiz Walter,de 67 anos,administrador do Bloco 1 do condomínio Sol e Mar,que,na falta de ônibus,precisou caminhar 1,5 quilômetro até a Cidade do Rock para ver o show do Queen,com Fred Mercury.

Nos anos 1980,o turista que não quisesse se hospedar no Centro ou na Zona Sul teria que se contentar em disputar quartos de motéis nas proximidades do festival. Entre os quatro mais procurados naquela época,três foram demolidos para dar lugar a condomínios residenciais.

Restou o quase cinquentenário Monza,em frente ao Parque Olímpico,um antigo motel que virava hotel improvisado em eventos realizados no antigo autódromo. Na década de 2010,mudou de nome. Na semana passada,o agora Hotel Dom oferecia diária de R$ 2,5 mil nos dias de RiR.

— O hotel é da mesma família desde a inauguração em 1976. A partir da abertura de novos negócios na área e para atender aos calendários de eventos da região,o negócio mudou de perfil já para a Olimpíada — explicou o gerente Jorge Lemos.

Hoje com 20% dos quartos

Raridade em 1985 nas vizinhanças (incluindo Barra da Tijuca e Recreio),hotel é o que não falta hoje. São dez mil leitos na região — 20% da oferta da cidade. Todos devem ser ocupados na próxima edição do festival,que começa amanhã. A avaliação do setor é que nos próximos anos boa parte dos novos hotéis surgirá por lá,podendo chegar a 33% de toda a rede do Rio.

— Os eventos esportivos,o RiR e outras atividades culturais demonstraram a vocação da região para o turismo. Ainda mais diante da expectativa da implantação do Imagine (megaparque temático projetado pelo grupo Rock World,que organiza o festival) e do futuro Autódromo de Guaratiba) — justificou o presidente do HotéisRio,Alfredo Lopes.

Internacionalizado,o festival chega à décima edição na cidade onde surgiu. Das versões cariocas,apenas uma aconteceu fora da Barra Olímpica: no Maracanã. Neste período,a região se expandiu,principalmente a partir dos anos 2000,ganhando um shopping,grandes condomínios,como o Rio 2,e unidades de saúde,como uma filial da Rede Sarah.

A primeira e a terceira edições na cidade (1985 e 2001) ocuparam o terreno onde anos depois seria construída a Vila Olímpica,para hospedar os atletas em 2016,em seguida lançada comercialmente como o condomínio Ilha Pura. Ao lado,fica o Riocentro,hoje o maior centro de feiras e exposições da cidade. Este,por sua vez,foi ampliado e modernizado por uma concessionária,para que o complexo recebesse provas do Pan (2007) e da Olimpíada (2016).

Nos próximos anos,o Ilha Pura deve ser ampliado,já que apenas cerca de 30% do terreno foi edificado. Há ainda outros investimentos em residenciais no entorno. Numa área conhecida como Centro Metropolitano,um dos negócios em desenvolvimento prevê 1.550 apartamentos,sendo que 80% serão o que a construtora Calper define como compactos: unidades entre 33 e 38 metros quadrados,com preços de R$ 260 a R$ 290 mil.

— A ideia é oferecer imóveis de qualidade por preços acessíveis,contribuindo para reduzir o déficit habitacional — disse Ricardo Ranuro,CEO da Calper.

Outras três edições do Rock in Rio ocuparam um terreno privado,que mais tarde foi desapropriado pela prefeitura para se tornar o Parque dos Atletas,área de lazer dos competidores olímpicos. Mas os donos nunca foram indenizados e a questão foi parar na Justiça. Cercada de mato,a área foi devolvida pelo município aos antigos proprietários há dez meses. Naquele trecho,a legislação permite a construção de residenciais.

— A discussão durou quase 16 anos,e nunca chegamos a um acordo. Ainda estudo o que vou fazer com meus lotes — contou o ex-senador Ney Suassuna,um dos donos.

Fim do autódromo

Atual casa do festival,a Cidade do Rock fica em lotes privados dentro do Parque Olímpico,principal palco das competições de 2016. Esse trecho é mais um exemplo das transformações da região. Em 1985,ainda ficava ali o autódromo que recebia as provas da Fórmula 1,cuja etapa brasileira foi transferida em definitivo para São Paulo em 1990.

Em meio à valorização da região,moradores da comunidade Vila Autódromo foram reassentados ou indenizados para deixarem a ocupação. No primeiro Rock in Rio,a favela tinha cerca de 400 residências. Na década de 2010,chegou a ter 600 casas,muitas delas na faixa de proteção da Lagoa de Jacarepaguá. Quase todos os imóveis foram derrubados para a construção do Parque Olímpico. Hoje,a Vila Autódromo tem apenas uma rua com 20 casas,ao lado de um acesso de serviço da Cidade do Rock.

— Não gosto muito desses eventos. Para os moradores,é tudo muito confuso. Temos dificuldades para passar por pontos de bloqueio — disse a aposentada Maria da Penha,integrante da associação de moradores da vila.

Outro desalojado pelo Parque Olímpico foi o Clube Esportivo de Ultraleve,que ficava à beira da lagoa,onde hoje ocorrem as queimas de fogos do RiR. A entidade foi transferida para Santa Cruz.