Socorristas removem corpo de local de acidente na selva amazônica,em 1989 — Foto: Sérgio Marques/Agência O GLOBO
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 12/09/2024 - 06:00
Acidente da Varig na Amazônia: 35 anos de tragédia
Há 35 anos,um avião da Varig pousou na selva amazônica após ficar sem combustível,resultando em 12 mortos. O piloto tomou a rota errada,pediu aos passageiros que rezassem e fez um pouso de emergência. Sobreviventes enviaram mensagens de rádio para o resgate. O acidente foi atribuído à falha da tripulação.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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O Boeing 737 da Varig estava perdido no ar havia três horas quando o comandante César Augusto Garcez avisou aos passageiros que só tinha combustível para mais 15 minutos. O avião decolara às 17h35 de Marabá,no Pará,levando 54 almas,com destino a Belém,no mesmo estado,mas tomara a rota errada e se perdera. Às 20h50,o piloto anunciou que tentaria um pouso de emergência no meio da Floresta Amazônica. Disse a todos que assumissem a posição adequada para o impacto,apertando cintos e abaixando as cabeças entre os joelhos. Também pediu aos passageiros que rezassem.
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O comandante deu início ao pouso com uma velocidade de 180km/h,sem saber o que encontraria no solo,já que estava escuro para enxergar. Após tocar o chão,a aeronave percorreu cerca de 70 metros rasgando a mata,no Norte do Mato Grosso,até parar em uma enorme cratera aberta pelo próprio bico. As asas do Boeing foram arrancadas por árvores de até 30 metros de altura. Parte da cauda também foi separada do avião. A violência da aterrissagem ainda arrebentou os suportes que mantinham as poltronas presas ao piso. Com isso,a maioria dos passageiros foi arremessada para frente.
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Longe dali,na noite daquele domingo,3 de setembro de 1989,as primeiras informações diziam que o avião tinha desaparecido. Aos poucos,porém,ficou claro que havia sobreviventes. A fazendeira Maria das Graças Junes,de Xinguara,no Sul do Pará,ligou para a TV Liberal para contar que seis passageiros haviam atravessado a mata até chegar na sua propriedade em busca de socorro. De acordo com ela,o Boeing pousara em algum ponto do município de São José do Xingu,no território mato-grossense. A moradora local emprestou seu carro para os sobreviventes chegarem até um aparelho de rádio.
Sobrevivente resgatado na base militar da Serra do Cachimbo,no Mato Grosso — Foto: Otávio Magalhães/Agência O GLOBO
O avião foi localizado graças às mensagens de rádio enviadas pelos sobreviventes,em outra fazenda,mas também devido a sinais emitidos pelo sistema de emergência da aeronave. Na manhã do dia 6 de setembro,mais de 48 horas após o acidente,as equipes de resgate chegaram ao local do pouso,após fazerem de base uma fazenda localizada a sete quilômetros de distância.
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Onze pessoas estavam mortas quando os socorristas chegaram. De acordo com relatos,apenas um homem morreu na aterrissagem. Ele estava de pé,embriagado,no corredor do avião,e não obedeceu às ordens para se sentar. Segundo passageiros,outras pessoas pediram para a tripulação liberar a bebida alcoólica,para acalmar os ânimos dentro da aeronave,nos momentos de muita tensão antes do pouso de emergência. Outras 11 vítimas faleceram após a parada do Boeing. Gravemente feridas,elas não resistiram à longa espera até a chegada da equipes de emergência.
Muito se machucaram quando as poltronas se soltaram. Bruna Coimbra,de 3 anos,e a mãe,Marinês Coimbra,estavam na primeira fila e foram soterradas por assentos. A criança teve um ferimento grave na perna e passou dias sem água,comida ou remédios. Quando o local do acidente foi encontrado,os socorristas disseram que o helicóptero não poderia descer na mata densa. Bruna teria que esperar até a manhã seguinte para ser levada à fazenda. Foi quando a mãe decidiu levá-la no colo atrás de ajuda. Ela andou durante quatro horas,à noite,até a fazenda que servia de base para o socorro.
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O pequeno Bruno Melazzo,de 1 ano e 8 meses,sofreu um traumatismo craniano durante o pouso. A mãe dele e o irmão,de 4 anos,morreram no acidente. Bruno foi resgatado com vida,mas sua chance de sobrevivência era pequena. Mesmo assim,o público em todo o país acompanhou as notícias sobre o menino,transferido para o Hospital Israelita Abert Einstein. No dia 10 de setembro,todas as esperanças acabaram quando o cérebro do garoto deixou de apresentar atividade. Ele foi declarado a 12ª vítima dos eventos que levaram até o pouso de emergência do Boeing 737 da Varig na selva.
Na investigação sobre o acidente,foi constatada uma deficiência no plano de voo entregue pela Varig à tripulação,mas,como a companhia havia alertado sua equipe sobre o problema,o relatório sobre o caso apontou falha da tripulação como principal causa do acidente. Segundo o documento,o piloto e o copiloto erraram ao interpretar a rota que deveriam seguir. Em vez de rumarem para Norte após a saída de Marabá,em direção a Belém,eles foram para Oeste e acabaram se perdendo na Amazônia. Ambos foram condenados a quatro anos de prisão,mais tarde convertidos a trabalho comunitário.
Sobreviventes do acidente com o Boeing da Varig após resgate na selva,em 1989 — Foto: Mino Pedrosa