E se os alunos deixarem os celulares fora da aula? França testa a 'pausa digital'

O diretor da escola secundária Auguste Brizeux mostra telefones celulares confiscados por não serem armazenados em armários apropriados — Foto: Loic VENANCE / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 08/09/2024 - 07:41

"Alunos na França guardam celulares em armários para melhorar desempenho escolar"

Na França,alunos guardam celulares em armários durante aulas para melhorar desempenho e reduzir assédio. Medida visa bem-estar,combate ao vício e foco escolar. Testes em 180 escolas; governo pretende ampliar em 2025. Lei já proíbe celulares em educação infantil,fundamental e médio. Recomendações para limitar acesso a redes sociais. Ação elogiada por tranquilizar professores e alunos. Medida enfrenta críticas sobre custo e gestão.

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"Quando entramos,desligamos o celular e o deixamos no armário. Depois vamos para a aula",resume Ylan,um aluno do ensino médio na França,onde o governo estuda generalizar essa "pausa digital" em 2025 para reduzir o assédio e melhorar o desempenho escolar.

O instituto de ensino médio Auguste Brizeux,na cidade portuária de Lorient,no oeste da França,começou a aplicar essa medida em 2022,que a partir desta semana está sendo experimentada por cerca de 180 outras escolas com o início do ano letivo.

O andar térreo conta com uma parede de armários destinada inicialmente a guardar livros e cadernos,mas que agora também serve para que seus 600 alunos guardem seus preciosos celulares até o final das aulas.

"É importante que os alunos mantenham uma distância física do telefone ao longo do dia" para que tenham a cabeça mais leve,afirma à AFP o diretor do centro,Grégory Charbonnier.

Com essa medida,o responsável pelo centro desde 2020 tem dois objetivos: "o bem-estar e a saúde dos alunos,e o combate ao assédio,que muitas vezes é ampliado pelo celular através das redes sociais".

"Noventa por cento dos nossos alunos possuem um celular,e 55% deles dedicam mais de 20 horas por semana ao aparelho",ressalta o diretor,para quem alguns podem apresentar sinais de comportamentos viciantes.

"Tranquiliza a todos"

Para Ylan,de 11 anos,e seus sorridentes colegas de classe,desconectar-se do celular no início das aulas tornou-se um hábito e eles não veem isso como uma humilhação.

"Evita que caiamos na tentação de olhá-lo. Quando estamos na aula,realmente não precisamos dele e ele pode nos distrair",acrescenta o aluno. "Nos permite aproveitar o tempo com os amigos",complementa Inès.

A adolescente até pensa que o deixaria no armário,mesmo que não fosse obrigada,para "concentrar-se melhor". "É bom porque estamos desconectados das telas e das redes sociais",explica.

Em sua classe,todos deixaram o celular na entrada,exceto Oscar,que,questionado pelo diretor,confessa que ainda o tem na mochila: "O sinal tocou. Eu não queria correr o risco de chegar atrasado".

O pessoal não controla se os alunos deixam o telefone no armário,mas se pegarem algum com ele,o confiscam e o devolvem no mesmo dia na presença de um dos pais ou responsáveis para "dialogar".

No caso de infrações muito frequentes,o aluno já não o deixa no armário,mas é obrigado a depositá-lo diretamente e pessoalmente na secretaria de assuntos estudantis todas as manhãs.

"Às vezes eles olham rapidamente para o celular entre duas aulas ao procurar um caderno no armário,(...) mas em geral são bastante honestos",avalia Camille Bellanger,assistente educacional.

Florence Allix,professora de alemão,considera isso "uma medida muito boa",que "tranquiliza a todos: professores e alunos".

Generalização em 2025?

Desde 2018,uma lei proíbe o uso de celular em centros de educação infantil,ensino fundamental e médio na França,enquanto permite que a direção decida se limita sua utilização nos liceus.

No ensino médio,a regra geral é que os celulares estejam desligados e guardados,explica Jérôme Fournier,do sindicato SE-Unsa,precisando que isso é insuficiente,embora "na maioria dos centros" funcione.

Um relatório de especialistas,solicitado pelo presidente Emmanuel Macron,recomendou proibir os celulares antes dos 11 anos e limitar estritamente o acesso às redes sociais para menores de 15 anos.

"O objetivo é que nossos alunos se concentrem melhor durante o tempo escolar" e que "possam estabelecer vínculos com seus colegas",assim como combater o assédio escolar,disse na terça-feira a ministra da Educação,Nicole Belloubet.

O governo estuda generalizar a partir de janeiro este dispositivo,que agora se aplica a 50.000 alunos entre 11 e 15 anos,apesar das críticas sobre seu eventual custo e gestão.