Chafariz do Mestre Valentim,no Passeio Público — Foto: Marcos Ramos
Por Alexei Bueno,poeta,ex-diretor do Patrimônio Histórico Estadual
“O patrimônio monumental do Rio de Janeiro continua sendo destruído,pilhado,saqueado,como uma pedreira,sem entrar no quesito dos cemitérios. Atualizações mais ou menos recentes: o monumento ao Visconde do Rio Branco,uma obra-prima de Félix Charpentier,de 1902,no início da Barata Ribeiro (originalmente na Glória) teve o braço esquerdo arrancado. Levaram o cajado da estátua de Gandhi,na praça que tem seu nome. Arrancaram os magníficos coroamentos dos portões do Campo de Santana,de 1873. A placa principal do admirável monumento ao Marechal Floriano,de Eduardo de Sá,na Cinelândia,também foi arrancada.
No Passeio Público,a cada mês desaparece um busto. Em breve,parecerá um cemitério,com pedestais sem nada em cima,a lembrar lápides. O chafariz do Mestre Valentim está há anos sem a figura do anjinho com a cartela “Sou útil inda brincando”,que era um símbolo da cidade. É o primeiro jardim público do país e tem tombamento federal. A balaustrada que o ladeava foi derrubada a marretadas,por causa dos balaústres de ferro,como denunciei há mais de 20 anos.
Onde está o Iphan? Quase todos os chafarizes da Colônia,do Reinado e do Império estão arruinados,e,no Chafariz da Rua do Riachuelo,de 1817,já arrancaram boa parte das letras de bronze,e ele era o único que as tinha no Rio. Nem vale a pena lembrar o que fizeram com os monumentos a Osório e a Deodoro.
Como fecho de ouro,as árvores. Raramente replantam uma árvore que caiu. Antes,cimentam rapidamente o buraco. As que datam da bela arborização de Pereira Passos (Gomes Freire,Augusto Severo,etc.) estão com 120 anos. Se não forem corretamente substituídas,logo não sobrará nada”.