Apelo antissistema de Pablo Marçal ofusca elos com o que há de pior do sistema

O candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) durante corpo a corpo em ato de campanha no Parque do Ibirapuera no último dia 2 — Foto: Marina Uezima/Brazil Photo Press/Agencia O Globo

Pablo Marçal bagunçou o cenário da disputa pela Prefeitura de São Paulo ao se apresentar como candidato antissistema. Na definição que ele mesmo deu numa sabatina do UOL: “O sistema não é a lei. O sistema é o modus operandi pelo qual o político toca a política”. Ser antissistema,segundo ele,não é querer “entrar no sistema”,e sim “colocar [no sistema] pessoas que não se curvem” a ele. O escrutínio das últimas semanas mostrou que não é bem assim.

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O ex-coach confessa que se faz de idiota nos debates e entrevistas porque “o público gosta disso”. Finge ser o que não é para enganar o eleitor — típico modus operandi dos políticos tradicionais.

Seu partido,o PRTB,já abrigou figuras como Fernando Collor de Mello e Hamilton Mourão. O fundador,Levy Fidélix,vivia de ser dono de partido. Disputou várias eleições e perdeu,mas sobreviveu mais de 30 anos na política pendurado no fundo partidário,negociando apoios à esquerda e à direita.

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O novo presidente,Leonardo Avalanche,é acusado pela viúva de Fidélix e por um grupo de ex-aliados de ter tomado a legenda na mão grande,desrespeitando o estatuto e acordos com eles.

Os famosos que estão concorrendo nas eleições 2024

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Os famosos que estão concorrendo nas eleições 2024 — Foto: Reprodução

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O ator e ex-participante do 'BBB 20' Babu Santana é candidato a vereador no Rio de Janeiro,pelo PSOL — Foto: Reprodução

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O apresentador de TV Dudu Camargo é candidato a vereador por São Paulo — Foto: Reprodução

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Aos 71 anos,o ator Mario Gomes e candidato a vereador no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

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Famoso pelo papel em "Senhora do destino",o ator Agles Steib é candidato a vereador no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

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Adrilles Jorge,ex-"BBB" e comentarista política na Jovem Pan,é candidato a vereador em São Paulo — Foto: Reprodução

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Conhecido pelo pelo personagem Cabeção de "Malhação",Sergio Hondjakoff é candidato a vereador pelo partido Cidadania,do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

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A atriz e apresentadora de TV Cristina Prochaskaé candidata a prefeitura de Ubatuba,em São Paulo — Foto: Reprodução

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O ator Licurgo Spinola,que fez novelas na Globo e na Record,é candidato a vereador em Curitiba,no Paraná — Foto: Reprodução

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Thammy Miranda,filho de Gretchen,é candidato a vereador em São Paulo — Foto: Reprodução

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Ex-Chiquitita,Renata Del Bianco é candidata a vereadora em São Paulo — Foto: Reprodução

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O humorista Marquito é candidato a vereador em São Paulo — Foto: Reprodução

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Ex-ator do 'Teste de fidelidade',Marcos Oliver é candidato a vereador em São Paulo — Foto: Reprodução

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Jornalista,youtuber e participante de "A fazenda",Léo Áquilla é candidata é vereadora em São Paulo — Foto: Reprodução

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Ativista pela causa animal,Luisa Mell é candidata a vereadora em São Paulo — Foto: Reprodução

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Em áudios incluídos nos processos judiciais em torno do caso,Avalanche aparece falando que obteve a intervenção que lhe permitiu tomar controle do partido,em fevereiro deste ano,depois de negociação envolvendo o presidente do Senado Federal,Rodrigo Pacheco (PSD-MG),o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),Alexandre de Moraes.

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Pacheco e Temer negam,Moraes não comenta o assunto. Nada garante que Avalanche tenha falado a verdade,mas,convenhamos,não existe história mais “do sistema” do que essa.

Em sua defesa,Marçal diz que não gosta de partidos e que,se pudesse,não seria filiado a nenhum. Também aí,nenhuma novidade. Para ficar em apenas um exemplo,Jair Bolsonaro,que já foi antissistema um dia,também trocou de partido inúmeras vezes,mas foi domesticado pelo fundo eleitoral centimilionário do PL e agora vive equilibrando seu discurso com o medo de ser preso por Moraes.

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Para não ter de criticar Moraes,aliás,Marçal chegou a cancelar uma entrevista com um canal de direita. “Não tenho medo de tomar tiro,mas nem por isso vou entrar no meio de um tiroteio”,justificou em privado,ao pular fora do compromisso.

Os bolsonaristas desconfiam que a atitude tenha relação com o “favor” que Avalanche diz ter ganhado do ministro — que Marçal nega. Mais uma vez,a política como ela sempre foi.

Ele também se apresenta como gestor eficiente,que transporá sua capacidade empreendedora à Prefeitura. Além de já termos visto esse discurso antes,com João Doria,a própria capacidade de gestão de Marçal parece não ser tudo isso. Ele diz que seu “império” vale R$ 5 bilhões,mas seu patrimônio não passa de R$ 300 milhões,somando o que ele declarou ao TSE ao que deixou de fora,de acordo com a Folha de S.Paulo.

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Vínculo com PCC

Desde que Marçal apresentou sua candidatura,a toda hora surge uma revelação que vincula algum personagem de seu entorno ao Primeiro Comando da Capital,o PCC. Do próprio Avalanche,que disse em áudio ter soltado o traficante André do Rap,a seu segurança,investigado por matar uma pessoa jurada de morte pela facção.

O ex-presidente estadual do PRTB Tarcisio Escobar,indiciado por trocar carros de luxo por cocaína. Um “despachante” que representa sua empresa de aviação e foi preso em 2021 por fornecer aeronaves para trazer 5 toneladas de cocaína da Bolívia ao Brasil.

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Marçal chegou a ser preso e condenado por participar de uma quadrilha que aplicava golpes enviando links falsos para correntistas de bancos. Ele diz que nunca roubou nada de ninguém e que provará que não tem nada a ver com o PCC.

Até agora,vem convencendo parte do eleitorado. Juntando a linguagem tiktoker burilada no algoritmo ao discurso de coach-pastor,catalisou o sentimento de indignação de quem está nas franjas do espectro social e cultural e não enxerga brecha para subir na vida.

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Os milhões de cortes,as frases abiloladas e a retórica agressiva que agitam a massa amplificaram a narrativa do sujeito de família humilde que chegou ao topo da pirâmide para desafiá-la.

Aí reside o apelo antissistema de Marçal. Só que,como ele mesmo já confessou,não tem nenhum pudor de fingir ser o que não é para conseguir o que quer. E o que ele é está cada vez mais claro para quem se dispõe a enxergar: um personagem que não só está entranhado no sistema,mas associado ao que há de pior dentro dele.