Da tropa de choque de Cunha a favorito do governo Lula: quem é Hugo Motta, deputado que embolou a sucessão de Lira

Eduardo Cunha acompanha jogo do Flamengo em Brasília ao lado de Motta: os dois atuaram juntos em favor do impeachment de Dilma Rousseff — Foto: Jorge Willian

RESUMO

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GERADO EM: 05/09/2024 - 03:31

Herdeiro político da Paraíba: Deputado Hugo Motta em destaque

Deputado Hugo Motta,herdeiro político da Paraíba,é figura influente na Câmara. Transita bem entre partidos,já foi aliado do PT e do Centrão,mas teve papel crítico no impeachment de Dilma. Próximo de Cunha e Lira,é cotado para presidir a Câmara. Destinou verbas para a cidade do pai,prefeito em busca de reeleição.

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Herdeiro de uma família de políticos do interior da Paraíba,o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) teve uma carreira meteórica ao ser eleito para a Câmara pela primeira vez em 2010,aos 21 anos,idade mínima para o cargo. Hoje,em seu quarto mandato,aos 34,é visto por colegas como um nome de bom trânsito nos diferentes partidos da Casa.

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Médico por formação,sua facilidade no trato pessoal é uma característica que,segundo parlamentares,fez seu nome ganhar força para suceder Arthur Lira (PP-AL). Em fevereiro,por exemplo,conseguiu reunir os três principais nomes cotados à época para disputar a presidência da Câmara — Elmar Nascimento (União-BA),Antonio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP) —,em uma tentativa de consenso. O convescote foi marcado “de surpresa” e à revelia dos pré-candidatos,para “pregar uma peça”,segundo os parlamentares contaram na ocasião.

Sua atuação ao longo dos mandatos o credenciou como representante do Centrão. Fez parte das bases aliadas dos governos de Dilma Rousseff,Michel Temer e Jair Bolsonaro. Embora se diga independente,aproximou-se da gestão de Lula após o petista levar Silvio Costa Filho,seu colega de partido,para o Ministério dos Portos e Aeroportos.

Impeachment e CPI

O histórico de Motta,contudo,o coloca como algoz do PT no Congresso. Em 2016,votou a favor do impeachment de Dilma. Na ocasião,o deputado fazia parte da “tropa de choque” do então presidente da Câmara,Eduardo Cunha,desafeto dos petistas e responsável por dar a largada no processo de impedimento da ex-presidente. Como O GLOBO revelou à época,uma assessora de Cunha foi a real autora de um requerimento em que Motta pedia informações ao então ministro de Minas e Energia,Edison Lobão.

Motta conduziu depoimento do ex-diretor Nestor Cerveró — Foto: Givaldo Barbosa - Agência O Globo

A amizade de Motta com Cunha também se estendeu para a filha do ex-presidente da Câmara. Antes de ser deputada federal,Dani Cunha (União-RJ) chegou a trabalhar como assessora de marketing de Motta.

Questão em reunião

A ligação com Cunha foi,inclusive,alvo de questionamentos ao deputado na reunião que teve ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Segundo interlocutores do parlamentar,Motta negou que o bom relacionamento com o ex-deputado implique em apoio incondicional.

Após a saída de Dilma,Motta aderiu ao governo de Michel Temer,votando contra o pedido de abertura de investigação que atingia o emedebista e a favor de pautas caras à gestão,como a PEC do Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista de 2017,ambas criticadas por petistas até hoje.

Em 2015,o parlamentar presidiu a CPI da Petrobras e criticou no documento final o trabalho da força tarefa da Lava-Jato e o “excesso” de acordos de delação premiada. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi o único político indiciado.

Com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República,Motta mais uma vez adotou uma postura contrária à agenda petista.

Em sua atuação na Câmara,Motta foi o relator,da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do “Orçamento de Guerra”,voltado para os gastos emergenciais do governo na pandemia. O deputado também foi relator da medida provisória (MP) que permitiu a renegociação de dívidas de estudantes junto ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Motta entre deputados: atuação em reformas como a da Previdência — Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Além da proximidade com Cunha e Lira,Motta também é aliado próximo do presidente do PP,senador Ciro Nogueira (PI),ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Quando saiu do MDB,em 2018,o parlamentar chegou a negociar a filiação ao PP,mas preferiu ir para o Republicanos para ter o controle do diretório no estado. Se tivesse entrado no PP,o parlamentar teria que disputar influência com o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

O líder do Republicanos tem como sua base eleitoral a cidade de Patos (PB). O município de 103 mil habitantes é há séculos administrado pela família Wanderley,oriunda da época da ocupação do Nordeste por tropas holandesas no século XVII.

Emendas para o pai

O pai do deputado,Nabor Wanderley (Republicanos),é o atual prefeito e busca a reeleição. Antes dele,seus antepassados também já comandaram a cidade,mas nenhum alcançou a relevância nacional de ocupar um cargo como presidente da Câmara,posto para o qual Motta agora desponta como um dos favoritos.

Como deputado,Motta destinou recursos de emendas para a prefeitura do pai,inclusive do extinto orçamento secreto,mecanismo criado no governo Bolsonaro em que parlamentares trocavam o envio dos recursos por apoio no Congresso.

Dos R$ 130 milhões de emendas de relator aos quais o parlamentar teve acesso,segundo documentos apresentados por ele próprio ao Supremo Tribunal Federal,R$ 22 milhões foram para a prefeitura hoje comandada por Nabor. O dinheiro foi repassado entre 2020 e 2021. Além disso,ele enviou R$ 6,1 milhões para a cidade na modalidade de “emenda Pix”,na qual o dinheiro cai direto na conta do município,que pode usá-lo como bem entender. Procurado para comentar o envio de recursos para a cidade do pai,Motta não se manifestou.