A reunião que decorreu no Palácio de Belém,em Lisboa,durou cerca de duas horas e nela participaram 20 viticultores,três elementos da Câmara de São João da Pesqueira,distrito de Viseu,e também o secretário de Estado da Agricultura,João Moura.
"Saíamos daqui com mais alguma esperança",afirmou o presidente do município duriense,Manuel Cordeiro,que referiu que,nesta vindima,há viticultores com muitas dificuldades em escoar as suas uvas.
O autarca contou à agência Lusa que,durante o encontro,Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que a crise que se vive no Douro é "um momento de emergência nacional" e que o chefe de Estado disse esperar que o Governo adote "mais algumas medidas,de forma imediata,sem prejuízo de outras mais de fundo para a região".
O objetivo da reunião foi o Presidente da República ouvir os viticultores durienses sobre os problemas que enfrentam,tendo sido marcada depois de Marcelo Rebelo de Sousa cancelar um encontro com os produtores na sexta-feira,em São João da Pesqueira,por causa da queda do helicóptero de combate a incêndios que provocou a morte a cinco militares da GNR.
Manuel Cordeiro considerou que o Chefe de Estado exerceu "a sua magistratura de influência" e disse acreditar que o secretário de Estado levará essa mensagem também ao ministro da Agricultura e,consequentemente,ao Governo.
Invocando quebras nas vendas e 'stocks' cheios,operadores não estão a comprar uvas aos viticultores ou estão a comprar em menos quantidade.
No entanto,os agricultores alegam também que têm vindo a receber cada vez menos pelas suas uvas,enquanto os custos de produção são cada vez maiores.
Em dois anos,verificou-se ainda uma quebra de 26.000 pipas (550 litros cada) para as 90.000 pipas no benefício,ou seja,na quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto,uma das principais fontes de receita dos viticultores durienses.
Ao Presidente da República foi também entregue um manifesto,no qual os viticultores pedem que o Governo "aja de uma vez por todas" e reclamam soluções para resolver a crise instalada na região,nomeadamente a utilização obrigatória,na campanha de 2025,de aguardente da região na produção de vinho do Porto.
Relativamente a esta reivindicação,na quinta-feira,o ministro da Agricultura,José Manuel Fernandes,disse à Lusa que pediu ao presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) para ver a possibilidade legal e a viabilidade económica do vinho do Porto passar a ser exclusivamente produzido com aguardente vínica da Região Demarcada do Douro.
Os viticultores pedem ainda,no manifesto,a proibição total de entrada de vinhos de fora da região,a fiscalização efetiva do IVDP e um apoio urgente e direto já para esta campanha ao viticultor que não consiga escoar as suas uvas.
Reivindicam ainda a descativação das receitas das taxas pagas ao IVDP,o reforço imediato do valor previsto para a destilação de crise,visando um aumento da eficácia da medida,a aplicação da taxa turística aos barcos cruzeiro.
A reativação da nova Casa do Douro (associação pública de inscrição obrigatória) como "voz da produção" e uma "reformulação profunda" de todo o quadro legal e institucional da região são também consideradas "absolutas prioridades" para este território.
Neste documento,os subscritores revelam que a "paciência e a resiliência" se esgotaram,lamentam o "desinteresse reiterado" da tutela,a "triste e generalizada falta de empatia com a região",a legislação "permeável e obsoleta" e alertam para um "IVDP inoperacional".
Os viticultores já saíram à rua em manifestações e estão a promover a petição "Salvem os viticultores do Douro",que ultrapassou as 1.500 assinaturas.