O dilema da adesão brasileira à Nova Rota da Seda

O presidente Lula é recebido pelo líder chinês,Xi Jinping,na chegada ao Grande Salão do Povo,em Pequim — Foto: Ken Ishii / POOL / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 03/09/2024 - 04:31

O Brasil e a Nova Rota da Seda: Dilema e Incertezas

O Brasil enfrenta o dilema de aderir à Nova Rota da Seda da China,com investimentos chineses já presentes. A iniciativa é vista como ampla e ambígua,desafiando definições,o que gera dúvidas no país. Apesar da resistência,a adesão parece iminente,especialmente com o retorno de Lula,mas ainda há incertezas sobre os benefícios concretos para o Brasil. A decisão se aproxima,mas o país precisa garantir que não será apenas uma adesão simbólica.

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Durante um tempo,era comum acusarem a China de armar uma arapuca para países em desenvolvimento com sua Iniciativa Cinturão e Rota,mais conhecida como “Nova Rota da Seda” (NRS). O esquema funcionaria assim,segundo os acusadores: a China financiava projetos de infraestrutura impagáveis,numa “armadilha da dívida” em que os países devedores ficavam vulneráveis às pressões de Pequim.

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Lançada em 2013 pelo recém-empossado presidente Xi Jinping,a NRS mostrou-se ao longo dos anos uma iniciativa tão ampla e fragmentada que passou a se confundir com a diplomacia econômica da China,ao mesmo tempo em que desafiava definições. É mais fácil estipular o que ela não é: a “grande estratégia” destinada a encurralar países pobres,como acusam políticos em Washington. Nem estratégia,nem visão,mas “um processo” sempre em transformação,prefere o analista Grzegorz Stec,que há anos monitora a NRS.

A indefinição explica em parte a resistência do Brasil em aderir à iniciativa: afinal,para que se comprometer com um projeto sem contornos claros e sinalizar alinhamento político com Pequim se o comércio bilateral é crescente e os investimentos chineses já fluem em grande volume para o Brasil? Esse ceticismo fez o país manter-se como um dos únicos três sul-americanos a ficarem de fora,ao lado de Paraguai e Colômbia. Mas isso deve mudar em breve,acreditam as autoridades chinesas.

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Durante o governo de Jair Bolsonaro,o desejo de Pequim de ter o maior país da América Latina a bordo ficou no freezer. Mas descongelou com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva,e esquentou de vez este ano,em meio ao cinquentenário das relações bilaterais. A visita de Xi ao Brasil em novembro seria a ocasião perfeita para o anúncio,idealizam os chineses. Ninguém confirma ou nega,nem se sabe o que está sendo negociado. Mas há gestos públicos.

Numa conferência de mídias sobre a NRS realizada há poucos dias em Chengdu,sudoeste da China,o Brasil foi o país estrangeiro com mais convidados. Entre os 29 participantes do país,a maioria era de profissionais da imprensa,como o titular desta coluna. Para uma plateia ainda se recuperando da longa viagem à China,o roteiro parecia interminável. Foram 56 discursos no total,em apenas um dia.

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Quem conseguiu manter o foco testemunhou a importância renovada que a China está dando à NRS,com uma combinação de autoridades do governo e de estatais. Muitas delas com altos investimentos no Brasil. Um exemplo é a petroleira CNOOC,uma das operadoras do Campo de Búzios (RJ),o maior do mundo em águas ultraprofundas.

Se os investimentos chineses já estão indo para o Brasil,por que o país precisa entrar oficialmente na NRS,repeti a pergunta a uma das organizadoras do evento,Sun Haiyan,vice-ministra do Comitê Central do Partido Comunista da China. “Por que não?”,respondeu,“afinal 150 países já fazem parte”. Para muitos,o Brasil já parece um deles,mesmo sem casamento de papel passado. O presidente de uma gigante estatal que tem negócios no Brasil se mostrou surpreso ao saber que o país não havia aderido.

Se a Nova Rota da Seda não é uma armadilha para o Brasil,ela cria um dilema. O país parece estar mais próximo do que nunca de aderir,mas até novembro os ventos podem mudar. A adesão pura e simples agrada a Pequim. Cabe ao governo brasileiro negociar algum recheio de resultados para o país,para que a adesão não seja um pastel de vento.