Democracia por um fio? No estado-pêndulo de Wisconsin, eleições serão um teste

Casa de um apoiador de Trump em Wisconsin — Foto: KAMIL KRZACZYNSKI / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 28/08/2024 - 04:31

Eleições em Wisconsin: teste para a democracia dos EUA

No estado-pêndulo de Wisconsin,eleições se tornam um teste crucial para a democracia dos EUA. Divididos entre apoiadores de Trump e críticos,o estado reflete a polarização nacional. A ameaça à democracia,a disputa partidária e a importância do voto são temas centrais em meio a um cenário político perplexo e marcado pela burstiness das opiniões intensas.

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Michael Hovde desaprova grande parte da agenda de Donald Trump. Mas acredita que,quando votar em 5 de novembro no estado-pêndulo de Wisconsin,os riscos serão muito maiores do que qualquer questão política isolada.

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— Acredito que Trump seja uma ameaça existencial à democracia — disse o eleitor de 36 anos,enquanto caminha pelo centro de Appleton,uma das áreas mais politicamente diversas de um dos estados mais divididos do país.

Ele menciona as pessoas "assustadoras" que cercam o magnata republicano e o Projeto 2025,apresentado em seu website como "um movimento histórico (...) para derrubar o Estado Profundo e devolver o governo para o povo". Embora tenha sido escrito para Trump,o candidato republicano publicamente o repudia.

— Eles visam realmente ignorar e contornar os pesos e contrapesos,e verdadeiramente castrar a eficácia do nosso sistema político — disse Hovde.

Não muito longe,nos gramados verdejantes e nas elegantes casas vitorianas desta cidade confortável de classe média,Casey Stern,de 58 anos,vê as eleições de forma bem diferente. Sobre seu jardim meticulosamente cuidado,tremula uma imponente bandeira com a inscrição "Trump 2024". Outra faixa pede o impeachment do presidente Joe Biden,com a inscrição: "Nós,o povo,estamos zangados".

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Se a mensagem é provocativa,as reações não ficam atrás. Stern relata que pedestres passam gritando ofensas,enquanto alguns críticos anotam seu endereço e lhe enviam cartas. Ele reconhece que "os tuítes maldosos no meio da noite" de Trump podem irritar as pessoas,mas acredita que o país precisa de um líder "determinado" para enfrentar a inflação,a imigração e a criminalidade.

— Toda vez que vamos ao mercado,não conseguimos nem comprar um filé — reclamou Stern.

Ele zombou das acusações dos democratas de que Trump representa um risco para a democracia,responsabilizando o presidente Joe Biden por sufocar o debate público sobre a pandemia de covid-19.

— Biden fez mais mal à democracia — disse.

Estado de tumulto

Se há um estado onde a mensagem democrata de que Trump representa uma ameaça à democracia pode mobilizar eleitores é o Wisconsin. Antes conhecido pela política limpa,polida,inclinada à esquerda,o Wisconsin se tornou o epicentro do partidarismo,um estado-pêndulo em essência,que poderia virar a eleição nacional.

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Trump deixou assombrados os democratas ao vencer ali por estreita margem em 2016; enquanto em 2020,Biden tomou o Wisconsin de volta,novamente com uma vantagem apertada.

A reviravolta ocorreu em 2010,quando Scott Walker,um jovem republicano que muitos pensavam que respeitaria o estilo político moderado de Wisconsin,foi eleito governador e provocou mudanças generalizadas. Ele tirou poder dos antes pujantes sindicatos de trabalhadores do estado e seus correligionários redesenharam os mapas eleitorais,virtualmente garantindo o controle do partido no Legislativo estadual.

Os democratas esperam que os republicanos tenham o castigo merecido nas eleições de 5 de novembro,disputando menos mapas partidários após uma determinação da nova maioria liberal da Suprema Corte estadual.

Kristin Alfheim,democrata concorrendo ao Senado estadual,apoia Kamala — Foto: KAMIL KRZACZYNSKI / AFP

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Kristin Alfheim,uma democrata que disputa um assento no Senado estadual,disse que mapas competitivos beneficiam a democracia.

— Isto dá a oportunidade aos dois lados prestarem contas,sabendo que vão precisar trabalhar juntos — afirmou.

A 'democracia' tem dois gumes

Biden tem insistido na ameaça à democracia representada por Trump,que se recusou a aceitar a derrota em 2020 e inflamou seus apoiadores,que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Desde que herdou a indicação democrata à Presidência,a vice-presidente Kamala Harris e seu companheiro de chapa,Tim Walz,governador de Minnesota,vizinho de Wisconsin,seguiu pelo mesmo caminho,mas adaptando a mensagem ao descrever Trump como "esquisito" e um prejuízo à civilidade,não apenas à democracia.

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Arnold Shober,professor de política da Universidade Lawrence,em Appleton,disse que o tema da democracia teve "ressonância especial" em Wisconsin,após a experiência com Walker,derrotado nas eleições de 2018.

Mas Shober disse que ela tem dois gumes,com alguns republicanos ainda lamentando os protestos barulhentos,embora pacíficos,que perturbaram o Legislativo estadual quando Walker forçou a aprovação de sua medida antissindical,conhecida como Decreto-lei 10.

— Quando se fala sobre o 6 de janeiro em Wisconsin,o pessoal da direita instantaneamente diz: "Bem,mas e aqueles democratas com o Decreto-lei?" — contou Shober. — Eles o veem quase como uma questão de equidade. Você fez aquilo,nós também podemos fazer.

Contra-atacando o sarcasmo

O Condado de Outagamie,sede histórica de gigantes papeleiras,e agora base de grandes empresas de escritório das quais Appleton é a sede,foi dominado por republicanos e originou o conhecido caçador de comunistas Joe McCarthy. Mas em um microcosmo do país,viu se aprofundar a divisão urbana-rural. Os democratas avançaram no centro de Appleton,repleto de barzinhos,uma padaria artesanal e butiques.

Souvenirs de campanha de Trump em Wisconsin — Foto: Kamil Krzaczynski / AFP

O chefe-executivo do condado de Outagamie,Tom Nelson,um democrata simpatizante do socialista Bernie Sanders,se elegeu sucessivamente desde 2011,mesmo tendo visto a brutalidade na política aumentar com Trump.

— Ele incentivou esse sarcasmo,esse desdém,esse ódio — afirmou.

Mas Nelson explicou que tem conseguido passar por cima da divisão com uma mensagem mais básica do que preservar a democracia.

Fundamentalmente,disse,as pessoas querem "poder viver em uma comunidade que seja segura,que seja saudável,que tenha uma economia forte e vibrante".