Musk e J.K. Rowling podem enfrentar cinco anos de prisão e multa de R$ 300 mil em caso de assédio virtual à boxeadora Imane Khelif

Elon Musk e J.K. Rowling são citados em processo de assédio virtual — Foto: Reprodução

RESUMO

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GERADO EM: 16/08/2024 - 04:00

Boxeadora denuncia assédio virtual e controvérsias sobre identidade de gênero emergem.

A boxeadora Imane Khelif denuncia assédio virtual e cita Elon Musk e J.K. Rowling. Controvérsia sobre sua identidade de gênero é destaque,com acusações graves e possível envolvimento de Trump. COI critica testes de gênero e defende atleta. Pai da boxeadora reforça sua identidade feminina.

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A boxeadora argelina Imane Khelif,medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 e vítima de uma “polêmica” de gênero,apresentou uma denúncia de assédio virtual às autoridades francesas nesta terça-feira. No processo,são citados o bilionário Elon Musk,proprietário da rede social X e a escritora britânica J.K. Rowling,autora da saga Harry Potter. Eles podem ser condenados a cinco anos de prisão e pagar até 124 mil libras (R$ 1,5 milhão) em multas pelo crime.

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O serviço nacional francês de combate ao ódio online abriu a investigação por "ciberassédio devido ao gênero,injúria pública devido ao gênero,provocação pública à discriminação e injúria pública devido à origem",especificou a promotoria à AFP.

Khelif foi vítima de uma campanha de difamação nas redes sociais e na imprensa depois de vencer a boxeadora italiana Angela Carini em apenas 46 segundos nas oitavas de final do boxe feminino. Se as acusações forem comprovadas,os condenados podem receber uma pena de prisão de dois a cinco anos e multas de até 45 mil euros.

Musk e Rowling participaram na disseminação de comentários sobre a boxeadora nas redes. O bilionário sul-africano compartilhou uma publicação em que nadadora americana Riley Gaines dizia que "homens não pertencem a esportes femininos",e comentou: "Absolutamente".

Já a escritora postou no X,junto a uma foto da boxeadora após a luta polêmica: "Poderia alguma imagem resumir melhor o nosso novo movimento pelos direitos dos homens? O sorriso de um homem que sabe que está protegido por um estabelecimento esportivo misógino,enquanto desfruta da angústia de uma mulher que ele acabou de atingir na cabeça e cuja ambição de vida ele acabou de destruir",referindo-se a Khelif como um homem.

Post da escritora J.K. Rowling — Foto: Reprodução/redes sociais

O advogado da atleta,Nabil Boudi,anunciou que ela "decidiu travar um novo combate: o da justiça,dignidade e honra". Ele ainda afirmou que o candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump também pode ser envolvido no processo,por postar uma foto de Khelif com o comentário: “Vou manter os homens longe dos esportes femininos”.

"Trump tweetou,por isso,quer seja ou não citado no nosso processo,será inevitavelmente investigado como parte da acusação",explicou Boudi.

Campanha contra direitos trans

Há anos,a criadora de "Harry Potter" participa de uma campanha contra os direitos de pessoas transexuais. “Me recuso a me curvar diante de um movimento que,na minha opinião,está causando um dano demonstrável ao tentar erodir a ‘mulher’ como classe política e biológica”,afirmou há algum tempo a escritora sobre o ativismo trans. Durante os Jogos Olímpicos,ela publicou e repostou dezenas de postagens sobre o “caso Khelif”. A boxeadora,no entanto,é biologicamente uma mulher — e não um homem,como foi acusada.

Já Musk,que é pai de uma menina trans,se manifestou contra a transição da filha recentemente. O bilionário de 53 anos prometeu “destruir” a cultura “incrivelmente maligna” que permite a cirurgia de redesignação de gênero que sua filha,que nasceu com o nome Xavier,fez em 2022.

Ele afirma ter sido enganado para permitir que a jovem tomasse bloqueadores de puberdade e que nunca lhe foi explicado que os bloqueadores da puberdade eram "na verdade,apenas medicamentos de esterilização".

— Eu perdi meu filho,basicamente. Eles chamam isso de 'deadnaming' por um motivo. O motivo pelo qual eles chamam isso de 'deadnaming' é porque seu filho está morto. Meu filho,Xavier,está morto. Morto pelo vírus da mente 'woke'.

Entenda a polêmica

A controvérsia começou no ano passado,quando Khelif e a boxeadora taiwanesa Lin Yu-Ting,também envolvida na mesma questão,foram desclassificadas do Campeonato Mundial feminino de Nova Deli,em março de 2023.

Segundo a IBA,Khelif não passou em um teste destinado a estabelecer seu gênero. A Federação recusou-se a especificar que tipo de prova foi realizada. O COI sustenta que a argelina pode participar das competições olímpicas na modalidade feminina.

A polêmica ressurgiu em Paris quando sua adversária na primeira rodada,a italiana Angela Carini,abandonou a luta no primeiro minuto. Nas redes sociais,a boxeadora argelina foi vítima de uma campanha de ódio e desinformação,que a apresentava como "um homem que luta contra mulheres".

"Sou uma mulher forte com poderes especiais. Do ringue,enviei uma mensagem àqueles que estavam contra mim",declarou Khelif à mídia após conquistar o ouro.

Após os ataques nas redes,o Comitê Olímpico Internacional (COI) emitiu um comunicado classificando os testes aplicados pela IBA como pouco claros e arbitrários. Antes disso,ambas sempre estiveram nos parâmetros estabelecidos pelo COI e pela Unidade de Boxe de Paris 2024 (PBU).

"Os ataques contra essas duas atletas se baseiam inteiramente nessa decisão arbitrária,que foi tomada sem nenhum procedimento adequado – especialmente considerando que esses atletas participam de competições de alto nível há muitos anos",disse o COI na nota.

Além do COI,o pai de Imane Khelif também se pronunciou em defesa da filha,onde chegou a mostrar a certidão de nascimento de argelina para provar que a boxeadora é realmente mulher.

— Minha filha é uma menina. Nós a criamos como uma menina. É uma menina forte. Eu a eduquei para que trabalhasse e fosse corajosa — disse Omar Khelif,pai da boxeadora,na casa da família em um humilde vilarejo rural localizado a dez quilômetros da cidade de Tiaret,a maior da Argélia.