Amanda Santana,fundadora da Tucum — Foto: Divulgação
RESUMO
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Aceleradoras impulsionam sustentabilidade na Amazônia.
Aceleradoras impulsionam economia e sustentabilidade na região amazônica. Empresas como Belterra e Tucum recebem apoio financeiro para implementar agroflorestas e negócios sustentáveis,superando desafios de financiamento com modelos inovadores. Fundos como Amaz buscam expandir investimentos para promover impacto socioambiental,enquanto organizações como Artemisia oferecem recursos e programas para impulsionar empreendedorismo sustentável.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Mudas de cacau,banana,mandioca e árvores nativas da Amazônia começam a tomar lugar do pasto no sítio de Luziane Sousa,em Parauapebas,no sudeste do Pará. O cultivo das novas espécies em seis dos dez hectares da propriedade fica por conta da Belterra,empresa especializada na implementação de agroflorestas. Pelo arrendamento,a proprietária recebe R$ 1.500 mensais — dinheiro que aumenta em 75% a renda da família. O negócio,criado em 2020,tem como foco a implementação de agroflorestas para venda de produtos,como o cacau das terras de Luziane,para gigantes como a Cargill.
— Por termos 3.500 hectares sob gestão,em cerca de 50 pequenas e médias propriedades,conseguimos acessar grandes compradores — diz o diretor financeiro da empresa,Marcelo Pereti.
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Agora a Belterra se prepara para estrear em outra frente: a comercialização de crédito de carbono,em parceria com a Amazon. Em troca da disponibilização das terras para regeneração,os proprietários têm duas opções de remuneração: arrendamento ou recebimento de parcela do valor das vendas da produção agrícola — que pode variar de 5% a 50%,conforme o estado de conservação da área e a disponibilidade de mão de obra e maquinário do proprietário.
Em 2023,a empresa buscou R$ 700 mil para comprar mais mudas e construir um viveiro em Parauapebas. Crédito bancário não era opção.
— Quando você vai ao banco e diz que vai fazer uma agrofloresta de cacau,dendê e açaí,eles não têm um método de análise do crédito pela falta de histórico em empreendimentos semelhantes — afirma Pereti. — A questão da garantia é também um grande entrave.
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A saída foi recorrer à plataforma de empréstimo coletivo da Sitawi Finanças do Bem,ONG com foco em mecanismos financeiros para a promoção da economia de impacto. Lançado em 2019,o sistema tem o objetivo de possibilitar os investimentos de qualquer pessoa física e não só de investidores qualificados,diz o diretor vice-presidente da organização,Bruno Girardi.
O modelo permite que se empreste quantias a partir de R$ 10 para organizações de impacto socioambiental. Até agora a plataforma financiou mais de R$ 16 milhões para cerca de 40 organizações,entre empresas,cooperativas e ONGs — 60% delas com atuação na região da Amazônia.
Para a Belterra,os juros anuais,para a operação de três anos,ficaram em 14% — taxa válida tanto para a remuneração dos investidores quanto para o valor cobrado da empresa. Em outros casos,os juros pagos pelos empréstimos são menores que os ganhos de quem investe. Nessas situações,a conta fecha graças ao modelo de blended finance — o financiamento híbrido que,no caso,mistura recursos de investidores remunerados com doações de parceiros filantrópicos. Seja qual for o caso,as taxas ficam abaixo das do mercado.
— Se as organizações beneficiadas pelas rodadas de investimento fossem obter empréstimos no sistema bancário tradicional,pagariam juros de até 35% ao ano — compara Girardi.
Na sua avaliação,com juros menores o negócio é menos pressionado a ter retornos financeiros elevados. Com isso,pode gerar mais impacto socioambiental.
Três mil mulheres de 50 povos indígenas
Outra empresa beneficiada pelo modelo é a Tucum,da empreendedora Amanda Santana. Em duas rodadas,em 2019 e 2023,ela conseguiu R$ 770 mil — R$ 130 mil da Sitawi e o restante da Amaz,financiadora e aceleradora de empreendimentos com foco em impacto socioambiental na Amazônia,coordenada pela ONG Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).
Os recursos foram utilizados para,com o lançamento de uma plataforma de comércio eletrônico,ampliar o negócio de compra e venda de artesanato produzido por cerca de três mil mulheres de 50 povos indígenas de Amazonas,Pará,Acre,Mato Grosso e outros oito estados. Com o sistema,elas podem comercializar seus produtos na loja on-line,que compra e revende as peças,ou abrir uma loja própria no marketplace criado pela empreendedora.
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A Tucum também oferece treinamento às indígenas para a gestão de negócios. Entre os grupos atendidos,está a Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro,que une diferentes etnias de regiões na fronteira com a Colômbia,como os povos baniwa,baré e tucano.
— Queremos que,com o processo,as participantes ganhem autonomia para escolher para quem vender,de que forma comercializar e por qual preço — afirma Santana.
No ano passado,a dívida com a Amaz foi trocada pela participação da aceleradora no negócio. É que a organização opera com mútuos conversíveis — modalidade de empréstimos,comum para startups,em que,após determinado período,os valores devidos podem ser convertidos em participação societária em caso de interesse do investidor.
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Negócios em fase inicial
Além da Tucum,o fundo de R$ 25 milhões da Amaz investe em outras 12 empresas. Os recursos vêm tanto de investidores privados,como family offices,como de doações de organizações filantrópicas.
—Só que não adianta fazer a capacitação e deixar o empreendedor cheio de água na boca para aplicar tudo aquilo que aprendeu no crescimento do negócio se faltar dinheiro,que é o combustível no tanque para percorrer essa jornada — diz Mariano Cenamo,CEO da Amaz.
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Por isso,a organização tem a meta de criar até o ano que vem um novo fundo,de R$ 75 milhões,envolvendo entre 15 e 20 empresas,incluindo negócios em estágio bastante inicial.
Para Cenamo,os altos retornos esperados pelos fundos de venture capital ainda são um entrave à busca de recursos no mercado.
— Eles vêm com a expectativa de repetir o ganho exponencial dos investimentos em tecnologia. É preciso reduzir um pouco a expectativa.
A opinião é compartilhada por Priscila Martins,diretora de relacionamento institucional da Artemisia,organização que também acelera e financia o empreendedorismo socioambiental.
— O capital adequado é mais paciente,menos ambicioso e mais voltado ao impacto. É preciso entender que provar a viabilidade do modelo destes negócios leva mais tempo — diz.
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A Artemisia atua tanto com recursos não reembolsáveis como reembolsáveis. Na primeira modalidade,o destaque deste ano é o programa TD Impacta,realizado em parceria com o Tesouro Direto e a B3,que distribuirá R$ 5,2 milhões entre 40 negócios,atualmente,em fase de seleção.
No ano passado,a organização lançou seus primeiros Certificados de Recebíveis de Investimento de Impacto Ambiental e Social (Criias),estruturados em parceria com o Grupo Gaia. Na primeira rodada,foram captados R$ 9 milhões,destinados a quatro empresas: Redação Online,plataforma que usa inteligência artificial para desenvolvimento de habilidades de escrita em crianças,adolescentes e adultos; Estante Mágica,com foco no desenvolvimento da escrita de crianças; a healthtech Portal Telemedicina; e o aplicativo Meu Chapa,que conecta chapas (trabalhadores autônomos que se dedicam a cargas e descargas em caminhões) a empresas que utilizam seus serviços.
Os títulos têm prazo de sete anos e preveem remuneração anual equivalente à variação do CDI mais 2%. O produto nasceu da dificuldade de acesso a recursos mais baratos que os dos bancos via mercado de capitais.
— Existe uma oferta de equity para impacto,mas há poucas opções de crédito para negócios de impacto — diz Martins.